Curioso como as viagens são tantas vezes o período em que reflectimos sobre o nosso próprio caminho,… sobre as nossas escolhas… Um dos textos mais partilhados deste blog foi escrito durante uma viagem. Uma viagem de 1800 Km que simbolizou uma descontinuidade na minha vida. Uma mudança. Com todas as lágrimas, incertezas e medos que as mudanças encerram. Hoje viajo num airbus A321 completamente lotado, em direcção a Lisboa. Faz 2 meses que este levantar amarras teve início e sinto que a maior parte dos meus medos se começam a dissipar.
Uma das minhas grandes preocupações é a minha filha. Não foi fácil tomar esta decisão sabendo, à partida, que isso implicaria uma grande mudança na vida dela. Para a generalidade dos pais, e sobretudo mães, é impensável. E tantas vezes é tentadora a ideia de julgar os outros, achando que são piores mães ou piores pais. Para mim seria muito mais confortável ter a minha filha comigo em França, acreditem. O estado francês (com quem tenho o meu contrato de trabalho) tem políticas de protecção para mães sozinhas com os seus filhos. Comparticipam, por exemplo, metade da renda da casa, além de outras ajudas de custo. Mas desde bebé que habituei a minha filha a ter vários pilares de suporte. E em França eu passaria a ser o seu único pilar, num país em que não conhece a língua. Sendo professora testemunhei de perto situações em que os miúdos se perderam por completo, por situações que lhes são alheias: o divórcio dos pais, a morte inesperada, a mudança de país,… E confesso que tive medo. Para mim o mais importante é sentir que a minha filha está feliz, que saiba todos os dias que é o amor da minha vida e que tenha a segurança de poder decidir viver comigo no dia em que ela quiser.
O primeiro ciclo é o mais estruturante de todos os ciclos escolares. Todos nós temos a referência do texto do assador de castanhas e de colar a folha de plátano, no caderno da escola, por ocasião do Outono. Todos nós temos a memória dos reis e dos rios de Portugal. E cada uma destas coisas não são mais do que raízes. Há a ideia generalizada de que é bom para as crianças viverem noutro país, porque aprendem duas línguas. Mas para mim é mais importante que a minha filha tenha Portugal no seu coração. Aos 10 anos estará muito a tempo de viver fora de Portugal, se assim for o nosso destino. Por agora, viverá as férias escolares, com programas já definidos para a Eurodisney, Paris (não sei porquê, mas pede-me para ir à Torre Eifel desde muito pequenina) e uma semana nas montanhas, para esquiar. Não foi por acaso que escolhi um país com 42 dias de férias para trabalhar!
As razões que motivaram a minha saída do país foram, sobretudo, uma necessidade atroz de mudança e de esperança no futuro. Porque é nesse futuro que a minha filha vai viver. Tomei a decisão numa altura em que os contornos da crise ainda se estavam a definir. O desenrolar dos acontecimentos sustentaram a minha decisão e hoje sinto que foi a melhor que poderia ter tomado. Os meus pais têm sido a minha rede de suporte. Adjectivos houvessem para vos dizer o quanto. É tudo mais fácil quando se tem uma família como a minha.
No início referi que parte dos meus medos se começam agora a dissipar. Explico-vos porquê. Levo na minha mala um presente para a Beatriz. Uma pulseira. Gosto de pulseiras. Porque olhamos para elas várias vezes ao dia. Porque ficam perto das mãos, o nosso meio para alcançar! Alcançar…no sentido real e metafórico do termo. Este presente simboliza todo o empenho que a minha filha teve para alcançar os resultados nas provas de Outubro (que ontem ficámos a conhecer). Os resultados escolares eram uma das minha grandes preocupações e, em certa medida, o barómetro do impacto que esta mudança teve na vida dela. É com orgulho que escrevo que a minha filha teve Muito Bom a todas as áreas disciplinares: língua portuguesa, matemática e estudo do meio. E o que mais me emociona é o facto de sentir que este resultado é devido ao seu esforço, para me provar que está bem. E basta o seu sorriso para eu sorrir também. E isto não é mais do que a forma mais genuína de amar! Amar incondicionalmente!
O que mais me impressiona neste texto Paula é que em cada frase se sente esse amor incondicional. Que embora a saudade mate, saber que cada passo foi dado em prol de algo maior; estou certo que no sorriso da Beatriz o orgulho pelo amor incondicional da sua mãe estará sempre presente!
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Obrigada por estas palavras bloco. Ser mãe aumenta tanto a pessoa que sou…
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Este texto é maravilhoso, repleto de amor, deixou-me com lágrimas de emoção nos olhos. Seria bom que todos os filhos recebessem todo este amor.
Apenas um pequeno reparo linguístico, que lamento sentir-me obrigada a fazer, mas por ser tantas vezes utilizado no dia-a-dia por muitos que acabam por ser exemplos, perpetua-se um erro de forma quase legítima. Na frase “(…) este resultado deriva do seu esforço (…)” seria mais adequado dizer que este resultado é devido ao seu esforço, ou seja, tem como causa o seu esforço. Deriva significa que algo se afasta, que se desvia do seu rumo e portanto não faz sentido ser utilizado neste contexto.
Espero ser perdoada pelo reparo, porque de facto adorei o texto!
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Olá. Naturalmente que não levo a mal o seu comentário e farei a correcção de imediato. Não sabia, obrigada por ter feito a correcção porque compreendi o que escreveu. Até breve!
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Valerá a pena cada sorriso, cada gesto, cada suspiro e não será a distância momentânea que irá colocar em risco nada do que diz respeito ao crescimento. Vale a pena sermos fortes na plenitude do que somos e quando se é mãe como tu… isso é imensurável
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Obrigada Zé. Imensuráveis são também as tuas palavras!
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pois é, Paula… ser mãe é mesmo uma dávida divina … uma profissão para a vida e felizmente sem reforma. Parabéns pela Beatriz! só falta deixar-lhe o património mais importnte que podemos deixar a um filho e tb a nós próprias: um irmão! um bj
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Obrigada! Digamos que no contexto actual me parece improvável 🙂 beijinhos
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Tudo que sai de si tem uma intensidade humana que não é comentável, é admirável e inspirador. Só sou capaz de agradecer o que má para ler.
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Muito obrigada Carlos. Eu, como muitas pessoas, tenho a redoma que por vezes se confunde com arrogância. Mas na verdade sou mais sensível do que à partida se poderá perceber!
beijinho
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