Aeroporto. Partidas. Voo TAP. Atrasado. Mais palavras para quê!
De vez em quando escrevo posts sob encomenda. Hoje é um deles. O ponto de partida: como vencer a monotonia num casamento? Não deixa de ter piada o facto de me pedirem para escrever sobre isso. É que se há coisa que não sou, é embaixatriz da esposa ideal – fosse assim e ainda estaria casada! Mas releve-se a incoerência, já que o pedido surgiu de pessoa em igual circunstância. Bom… se há mulheres que dão cursos de preparação para o parto, sem terem tido filhos, eu, pelo menos, estive casada 10 anos!
Há alguns pressupostos a ter em conta. Por muito que possam parecer óbvios (se houve coisa que aprendi é que, numa relação, até o mais obvio pode passar despercebido).
1 – Se as pessoas vivem juntas é porque se amam e querem partilhar mais do que o jantar e o cinema, à sexta feira à noite.
2 – Numa relação assume-se um contrato de exclusividade (mas há que definir os parâmetros – só para que não existam mal entendidos e adendas ao contrato).
3 – Quando colocam aquela folha na porta do frigorífico. Sabem? Aquela que “fixam” com o magneto das últimas férias e que tem duas colunas: aspectos positivos/ aspectos negativos da relação. Sabem? Pois… Esse é o momento em que títulos como o deste texto começam a suscitar especial interesse.
A Monotonia não é, na minha opinião, a justificação para o fim de uma relação. Por muito que seja tentador dizê-lo… Até porque há monotonias num casal que são estruturantes. Essa é, aliás, a maior dificuldade após uma separação. A ressaca de um casamento tem, curiosamente, muito mais a ver com os hábitos do que com as surpresas. Às vezes acho que as pessoas falam em monotonia com desagrado, não porque lhes desagrada o conceito rotina, mas porque se enredaram nas rotinas erradas. Esqueceram-se das rotinas que os aproximam e que os afastam dos problemas do quotidiano. Almoços e jantares com familiares e amigos são óptimos, mas podem ser, quando em exagero, uma limitação à intimidade e maturidade do casal. Por se permitirem à influencia e opinião de terceiros. Se a dois é difícil, imagine-se se lhe acrescentarmos os pais e os melhores amigos…
Parece-me, por isso, que a melhor forma de escapar à monotonia de uma relação é criar rotinas que mantenham unido (e cúmplice) o casal. Alguns exemplos, ou sugestões:
– Sexo. Não vale a pena fugir ao tema, dizer que não é (o mais) importante. Ah… desculpem. Fazer “o amor”! A cama de casal, no quarto do casal, ao lado do quarto dos filhos é, por norma, o espaço de eleição para a intimidade. E nesse mesmo quarto discutiram-se, pouco tempo antes, as contas para pagar entre outras divergências. O chip não muda com um click e um dos grandes problemas do casal, sobretudo da mulher, é não dissociarem o seu prazer físico dos problemas do quotidiano. A rotina motel, hotel, pensão,… uma vez por semana/mês pode ser uma solução. Mas essa é uma rotina que deve ser secreta e proibida. Só do conhecimento do casal. Porque se dela fizerem publicidade, entre os amigos e os colegas de trabalho, já não será vivida com a mesma clandestinidade.
– Romantismo. A rotina do post it no espelho da casa de banho. Será que as pessoas se vão fartar de encontrar um papel a dizer: “tem um bom dia!”. Tomar o pequeno almoço ao domingo de manhã na cama. Mesmo que seja com os miúdos aos saltos e a televisão ligada no canal panda. Ir ao cinema à sexta feira à noite (ou transformar a sala no cinema, depois dos filhos estarem a dormir)… Porque é que se pensa que ser romântico custa dinheiro? Exige uma coisa diferente, é bem verdade… Exige atitude!
– Comunicação. Se há rotina que se perde é esta. Os casais deixam de conversar. Deixam de sentir prazer em conversar um com o outro. Talvez porque se começam a conhecer demasiado bem. Talvez porque não aceitam a diferença de opinião. Talvez por terem deixado de a ter – porque para algumas pessoas casamento significa deixar de ter opinião. Talvez porque à conversa se juntam as segundas e as terceiras interpretações. Já repararam como a partir de uma certa fase tudo é feito com amigos ou familiares? Como se deixasse de ser interessante estar apenas com o cônjuge (e com os filhos). Surgem os jantares, as escapadelas de fim de semana e as férias… a 4 ou a 6. Sim… Porque os casais gostam de estar com casais. Porque os casais gostam de julgar a vida dos outros casais. Conversam mais sobre a relação dos outros do que sobre a sua. Costumo dizer que o melhor teste a uma relação é passar 2 semanas de férias, sozinhos enquanto casal. Não é por acaso que Setembro é o mês em que mais casais se separam! Cultivar a rotina da comunicação é imprescindível. Questões como “como foi o teu dia? O que achas de…?” … São um bom ponto de partida, desde que não se obtenha como resposta: “foi bom”, “não sei”…
– Filhos. Quem pensar que os filhos aproximam um casal está completamente enganado. Na verdade é ainda mais perverso. Os filhos afastam o casal e tornam mais difícil a separação. É um lugar comum dizer que o casal tem de ter momentos apenas seus, deixando os filhos com os avós ou com os amigos. Não tem de ser necessariamente assim. As pessoas são diferentes. Como todas as revistas vendem capas com títulos “deixe os filhos em casa e viva um momento a dois”, eu deixo a sugestão de uma rotina – “Peguem nos filhos e façam um piquenique” – Troque a nintendo, os smartphones ou os ipads, pelas bicicletas, a bola ou as botas de caminhada. E que seja uma rotina!
Não há formulas, de facto! Por muito que as procuremos… Todas as relações têm pontos fracos e pontos fortes. O mais difícil (pelo menos para mim) é fazer uma abordagem positiva dos pontos fracos. Porque registo com muito mais intensidade o que me magoa, do que o que me faz feliz… É o chavão “perdoo, mas não esqueço” – o que em último é sinónimo de ressentimento. Acredito que não seja caso único!
Termino este texto já no avião. Ao meu lado está sentado um casal russo. Aparentam ter 50 anos. Começaram por beber 2 cálices de whisky. A que se seguiram mais 2. Brindaram. Não percebi a quê. Com a refeição pediram, cada um, 2 copos de vinho branco. Estão animados. Ela foi à casa de banho e ele diz-lhe adeus, acenando com a mão. Não sei se é uma rotina ou uma fuga à rotina. Mas parece ser algo que ambos gostam de partilhar. Deixo-vos a sugestão – esta em jeito de escapar à rotina – celebrem o deus Baco :D!
A inteligência e a vida, juntaram-se num texto e numa análise correta e deliciosa.
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Obrigada Carlos. Que os atrasos da TAP sirvam para alguma coisa :D!
Beijinho.
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Amei o texto, tenho sentido nos ultimos tempos essa monotonia na minha vida conjugal e social. apesar de ter trocado de emprego.
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Obrigada Milton. A monotonia nem sempre é má. É apenas necessário encontrar aquela que nos faz ter vontade de voltar para casa.
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