A aventura radical (leia-se saloia) na neve!

E depois dos passeios com paisagens emolduradas pelo azul turquesa do Mediterrâneo, virámos costas ao Mar e subimos aos Alpes, mais precisamente à Vila de Valberg. 70 Km separam Nice desta estância de ski, mas as estradas são de Montanha… Paisagens de cortar a respiração, pois… essa é a parte romântica! A verdade é que estava cheia de medo! As estradas são pequenas para um carro, quanto mais para dois. Já para não falar da neve… do gelo… e das ravinas. A viagem fez-se! Mas não há bela sem senão… O meu telefone não detectava a morada do hotel, pelo que seguimos a indicação “Guîtes” que nos conduziu para um caminho de cabras, sem protecções. Subimos… e subimos… e eu a pensar no meu carrinho e como iria sair dali… A neve era cada vez mais e não me parece que um limpa neves ou a deposição de sal na estrada passasse por ali. Até que se tornou impossível passar, devido à neve. Telefonei para o hotel e assim que disse onde estava, ouvi do outro lado “Pas bon, pas bon…” Pois, inversão (pavorosa) de marcha e percurso inverso (ainda mais assustador) a 2 Km/h. E chegámos. Uma senhora muito simpática deu-nos as chaves da casa, numa simpatia que quase me fez sentir no Portugal interior – são as pessoas que fazem os sítios – é bem verdade!

Roupas de ski no corpinho (algumas delas gentilmente emprestadas) e toca de ir alugar as botas e as pranchas de ski. Debutant (iniciados) foi palavra rainha porque tinha bem presente a mensagem “perna partida”. E lá fomos feitos saloios a achar que quem faz ski gosta mesmo é de sofrer (e de gastar dinheiro – que se há coisa que este desporto não é, é barato). Andar com aquelas botas foi, para mim, voltar ao passado, quando o médico me obrigava a andar com umas botas ortopédicas duras e horríveis (olha devem ser vintage por estes dias!). Os skis pesam para caraças e a juntar aos batons (que raio de nome) tornam qualquer passeio de 100 metros uma verdadeira tortura, capaz de dissuadir qualquer debutante de fazer ski. A coisa complica-se quando colocamos os skis nos pés. Pois! É assim mais ou menos como a marcha dos pinguins… mas a dos piguins trapalhões. E assim passámos a manhã, a tentar ter equilíbrio em cima dos skis e, mais do que aprender a deslizar (nisso o declive é que mais ordena) foi aprender a travar (sem ser com o rabo ou com outras partes mais criativas do corpo). É que não estão bem a ver o filme de, após uma queda, tentar levantar o corpinho com os skis nos pés. Para quem vê é um filme cómico. Para quem está em cena é um daqueles filmes de câmara lenta, de género dramático com a banda sonora “tirem-me daqui que eu estou farta disto” – a minha irmã revelou-se uma excelente actriz neste género cinematográfico, capaz de ganhar qualquer festival de curtas!

Persistência, persistência, persistência… E ao fim de três descidas a controlar a velocidade (e raramente a direcção) sem cair, lá nos aventurámos telesiége acima (leia-se teleférico). E ser debutante, é ser debutante a sair do telesiége. E como não poderia deixar de ser – patrocinámos um momento cómico à monótona vida do senhor que trabalha na segurança do telesiége. É que sair, saímos todos… Mas para cima uns dos outros… Pois! E lá fomos… Numa fase em que o prazer começou a estar em pé de igualdade com o prazer de descer nos skis. E outra, outra e outra vez… Com quedas cada vez menos regulares. Até que no segundo dia a sensação de controlo na direcção e na velocidade tornam o ski um desporto verdadeiramente viciante, com uma grande vontade de voltar. Muito há para evoluir e a sensação é de tentar ser sempre melhor, fazer pistas mais difíceis e a uma maior velocidade. Acresci ao prazer egoísta do que fui conseguindo fazer, ao orgulho (e medo também) de ver a minha filha fazer o seu próprio percurso de aprendizagem (os putos parecem de borracha e uns grandes malucos – por não terem noção do perigo).