Estou de regresso a Lisboa. É nas pequenas coisas que percebo que estou diferente. Hoje fui às compras. Voltei a sentir a sensação da primeira vez que fui ao supermercado em França. “Queres sagres ou superbock?” e aquelas palavras ecoavam na minha cabeça! Sei lá! Comecei a beber cerveja em França e lá não existe nem sagres nem superbock. Parei na bancada do peixe fresco com os olhos esbugalhados – os preços são todos inferiores a 10€! “Polvo! Hoje vamos jantar polvo, disse à minha amiga!” E os legumes… Aqui há couves e nabiças e agriões e… Figuras ridículas, estas que uma pessoa faz!
“mamã porque é que não falamos todos a mesma língua? Seria mais fácil se em todos os países do mundo se falasse a mesma língua!” Durante estas férias a Beatriz teve contacto com pessoas de todos os continentes, como ela diz. É giro como para as crianças olham o mundo! “A mamã conhece pessoas de todo o mundo” dizia, por telefone, ao pai. À vezes penso que influência terá esta experiência nela… Ouvir-me falar ora em inglês, ora em francês… os diálogos em espanhol e as graçolas em italiano… e tantas pessoas diferentes, de tantas origens diferentes que tentaram com ela comunicar em inglês (ou em francês) e na linguagem universal dos gestos.
As experiências gastronómicas foram outro capítulo interessante. A minha filha não é dada a sabores do mundo – sai à mãe, pois… Desde estar no restaurante e fugir à pressa para lhe comprar comida ou reduzir o repasto a esparguete branco em casa de amigos… houve de tudo! De óculos, tubo e barbatanas aproveitou todas as praias de rochas da região. Passou horas, muitas horas dentro de água – uma verdadeira pró no snorkeling! Foi assistente de laboratório durante uma semana. Participando nas rotinas do meu trabalho. Fazer as soluções. Os animais que agora não importa descrever… Foi bom tê-la comigo.
Mas a cereja no topo do bolo foi mesmo no último dia em frança. Fomos à praia perto de casa. Um quadrado de areia em frente ao mar. Deixámos as coisas e fomos ao banho. Enquanto estava na toalha ouço uma miúda ao lado a cantar a música do Marco Paulo “Eu tenho dois amores…”, esbocei um sorriso. Ouço a miúda falar com o pai. “Aquela menina fala português? Vou falar com ela!” E em poucos minutos tinha a minha filha a brincar com a miúda no mar. E o pai da miúda a perguntar-me se eu estava de férias. Mas assim do género: “Eu sou o Miguel. Tu estás em vacances?” Na versão emigrante vien ici no seu estado mais genuíno. No final do dia – ainda eu com as malas por fazer – a minha filha lembrou-se de me fazer um pedido “mamã é a minha última noite aqui e a primeira vez que tenho uma amiga. Podemos convidar para jantar? Podemos, podemos? E a custo disse… ok!
Às 21h tinha um pai e uma filha (que tinha conhecido nessa tarde) para jantar. De garrafa na mão – 2 porque deve ter achado 1 insuficiente – será que ele pensou que as crianças bebem vinho? Depois do jantar, por altura do meu café e do seu cigarro, ele diz “je suis surprise. conheci uma portuguesa portuguesa aqui” E eu senti-me um animal de jardim zoológico. O que é que queres dizer com portuguesa portuguesa? (Também me apeteceu perguntar porque é que não fala só em português e mistura os princípios ou os fins com expressões francesas). Não és filha de emigrantes! As portuguesas que conheço aqui são todas mais francesas do que portuguesas… E eu na dúvida… digo, não digo. digo, não digo… (é que me parece que o moço estava a precisar de ser relembrado que ele estava ali por convite da minha filha. O interesse não era meu nele, mas sim da minha filha na filha dele!). Às 23h – desculpa mas ainda tenho de fazer as malas e um amigo vem buscar-me às 4h da manhã para nos levar ao aeroporto! “Quando voltarmos podemos prendre un verre! Eu moro à côte!” Depois vemos, agora só consigo pensar em tudo o que tenho para fazer antes de ir! E de modo que a minha filha me arranjou um date! Pois…