Há telefonemas inesperados. Aqueles que começam no diálogo:
– É mesmo comigo que queres falar? Quando vi o número no visor do telefone achei que era engano.
– Não é engano. É para ti que estou a ligar.
Silêncio. Isto está mesmo a acontecer? Questiono-me… E quase fiquei de lágrimas nos olhos. Há pessoas que nos fazem falta – já repararam? Porra, como tinha saudades desta amizade. Saudades do abraço (como aquele em frente ao Starbucks de Belém, ainda anestesiada pelas mudanças que estavam a acontecer na minha vida) – vai correr tudo bem! Não tenhas medo e não tenhas vergonha de chorar! Saudades do colo em silêncio… Saudades das conversas… da nossa forma de comunicar. Há poucos dias escrevia sobre o quanto, nós humanos, somos incapazes de gerir situações. Mesmo quando envolvem pessoas que nos são tão queridas. Do outro lado ouvi “Eu seria pessoa para me comportar como tu, mas nunca contigo…” E eu sei que é tão verdade o que me diz… E passaram 2 anos… Assim… E em 2 minutos estávamos a conversar como se esse tempo não tivesse existido. Como se tivesse sido na semana passada, o último café na varanda até de manhã, nas palavras que comungamos – fazendo as perguntas certas. É bem verdade que, tal como na ciência, na vida, se não fizermos as perguntas certas, as respostas serão as erradas. Talvez isso explique muita coisa…
Foi um ano tão difícil para mim, aquele… Foi mais fácil desligar. Acho que até me desliguei de mim. As perguntas incomodavam-me. Eu não tinha capacidade de lhes responder. Ou não queria. Ou não tinha energia. Cumprir, cumprir, cumprir… Recordo-me que a minha preocupação era não permitir que o caos emocional em que estava, influenciasse o meu trabalho. Para algumas pessoas esta dissociação é impossível… mas para mim é um estado de sobrevivência. Neste estado as pessoas passam a ser menos pessoas. É mais ou menos o mesmo que estar no topo do Arco da Rua Augusta e olhar para o Terreiro do Paço. Há pessoas lá em baixo. Movem-se como peões de xadrez. Quase temos a impressão que as podemos mover com um simples dedo. Tudo na vida daquelas formigas (que parecem humanas) nos fica tão indiferente. Tão aleatório. O tempo! Não existe melhor forma de sabedoria do que aquela que o tempo nos permite ter. Estejamos nós disponíveis… para voltar a procurar respostas, para as perguntas certas!
Aqui escrevi “A vida fez-me perceber que nem sempre fui correcta com algumas pessoas… Pessoas que gostaram de mim. Pessoas que esperavam mais de mim. Pessoas que simplesmente desistiram… desistiram de mim. Mas houve também outras que se mantiveram. Pessoas que não tendo esquecido o pior de mim, ficaram pelo melhor que posso ser ” e TU ligaste… e EU estou-te muito grata por isso.
(E porque as amizades são uma parte doce da nossa vida, e porque esta semana estive num congresso que, além de ciência, teve a cuisine française ao seu melhor nível – deixo-vos uma fotografia duns docinhos deliciosos 😀 – estou de volta ao trabalho ah pois é!)
Até breve!
Ao reconhecermos a nossa humanidade, ficamos mais próximos de reconhecer a humanidade dos outros. Na vida já fui muitas coisas, perfeito não foi uma delas. O tempo e a digestão dos eventos, da-nos a oportunidade de guardar o que queremos acerca dos outros. Como disse Gabriel García Marquez ” Gosto de ti não somente pelo que és, mas pelo que sou quando estou contigo…” . Existem pessoas juntos das quais sempre me senti “mais amplo”…
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😀 uma grande amiga comum – Teresa, diz-me essa frase de Garcia Marques muitas vezes. O 2, o 10 e o 15 talvez sejam a chave se lhe juntarmos um 6, como que à parte :). Obrigada pelo comentário que em breve irei comentar. Este foi apenas um à parte (como um dos meus restaurantes favoritos de Lisboa). Beijinho.
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