Monthly Archives: Novembro 2014

“Quando é que refazes a tua vida?”

Há 10 anos nasci mãe. Mãe de uma única menina. Houve momentos em que senti vontade de ter mais filhos. Mas foram, incomparavelmente, mais numerosos aqueles em que senti (sinto) que só consigo amar a minha (única) filha. Bem sei que o amor aos filhos não se divide. Adiciona-se. Dizem-me os experientes. Mas que hei-de eu fazer com a minha ignorância?

“Quando é que refazes a tua vida?” é uma pergunta constante. Mais ou menos como aquela que fazem aos casais que estão juntos há mais de dois anos “Quando é que têm filhos?”. Como se tudo tivesse de ter uma ordem. Uma norma. Alguns ainda me dizem, em tom premonitório, “tu vais acabar por ficar sozinha!” como se “refazer” a vida fosse um jogo de cadeiras em que as possibilidades se vão reduzindo e “assegurar” uma cadeira fosse um objectivo primeiro.

Eu não tenho pressa. Nem a urgência dos óvulos envelhecidos. Nem a necessidade de ajuda para equilibrar as contas. Nem a ambição de ter mais coisas do que aquelas que tenho. Sobra pouco de mim para amar – ou para “refazer a vida”, como (quase) todos gostam de designar. E não raras vezes – quase todas as vezes – estou do lado da balança que menos dá. E nem é por medo ou por indiferença, mas por genuína incapacidade de ser diferente.

 

E era isto!

“Um rato e um cão”, um texto de Beatriz Luís.

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A professora da minha filha pede aos alunos para escreverem um texto livre, por semana. No entanto, apenas alguns alunos têm a possibilidade de ler o seu texto – aqueles que são seleccionados pela professora. Hoje disse-me triste: “mamã ainda não foi hoje que pude ler a minha composição.” A professora nunca chega a ler os textos dos alunos que não são seleccionados. E ontem, quando me leu o seu texto cheia de alegria e orgulho, estava desejosa de hoje ser uma das escolhidas. É pena que não tenha o feedback do que escreve. Apesar de ser muito mais giro ouvi-la dar voz aos personagens, partilho aqui no blog, para a motivar a escrever.

Um dia chuvoso, em Londres, perto do Natal, num prédio muito alto. Nesse prédio, existe um andar muito importante: o 9º andar. Vive lá um milionário muito famoso que tem um cão alto, com muito pêlo, olhos azuis e uma grande cauda. O cão é muito fiel, mas tinha um problema. Tinha medo de ratos.
Numa manhã o cão acordou e ficou a olhar a sua vista maravilhosa, mas estava aborrecido pois o dono tinha muito trabalho e não podia brincar com ele. Passado umas horas, quando o dono saiu para ir trabalhar, entrou um rato. Foi procurar queijo na cozinha. Quando o cão foi tomar o seu pequeno-almoço – ele gosta de leitinho quente -, viu uma “coisa” com pêlo fino e olhos verdes, em cima do balcão.
O cão espantado e cheio de medo disse:
– Ah!!! Tu és um rato!
O rato respondeu:
– Sim, sou. E vim aqui à procura de queijo. Podes dizer-me onde é que está?
– O rato acabou… de falar comigo!? É melhor fugir! Exclamou o cão.
O cão fugiu do rato e o rato atrás do cão. Com esta confusão o rato gritou:
– Pára com isso! Por que é que foges de mim?
– Porque tenho medo de ratos! E tu podes morder-me! Respondeu o cão.
– Mas eu não te mordo. Até podemos ser amigos. Afirmou o rato.
– A sério? Podemos ser amigos? Perguntou o cão.
– Claro. Respondeu o rato.
O rato e o cão tornaram-se amigos. O rato passou a viver naquele prédio, mas um dia ele foi ao quarto da dona do cão – que tinha muitas jóias sobre uma mesa. O rato não resistiu e roubou algumas. Quando o cão se apercebeu do que ele tinha feito começou uma discussão:
– Porque é que fizeste aquilo?
– Olha, já estamos a discutir há imenso tempo e eu já te disse que não queria fazê-lo, mas eu tenho um fraquinho por brilhantes.
O cão desculpou-o. Voltaram a colocar as jóias no seu lugar e por mais estranho que pareça o rato e o cão tornaram-se os melhores amigos. E o cão nunca mais se sentiu aborrecido. Tinha sempre com quem brincar, mesmo que longe de brilhantes.

Um texto de Beatriz Luís, 9 anos.

(A imagem foi escolhida pela Beatriz retirado daqui).

Parabéns mana! Tenho muito orgulho em ti. E na nossa familia :)!

Hoje a minha irmã esta de parabéns. E os meus pais também. A minha irmã inspirou alguns dos posts mais lidos do agoradigoeu (aqui ou, ainda,  aqui, caso tenham curiosidade). E por muitos anos que passem eu serei sempre a cota e ela a miuda – mesmo que a diferença de 12 anos se comece a dissipar – va deixem-me la acreditar nisso – a mania que esta gente tem de dizer que quando eu era nova era muito parecida com a minha irmã – como se eu fosse velha, imagine-se!.

A menina hoje fez-se Senhora Engenheira do IST – sim, nada de confusões porque os meninos do Técnico gostam deste tipo de diferenciações. Defendeu o mestrado a horas improrias – às 9h da manhã – com a tenaz capacidade de se manter acordada e de responder às questões que lhe foram colocadas. A parte mais importante – e motivo de celebração – é que a partir de hoje sempre que dissermos: “Claudia podes pôr a mesa?” Não vamos ter como resposta “Agora não posso, tenho de estudar!”.

Humor à parte, é com enorme orgulho que convosco partilho esta conquista da minha irmã. Sobretudo quando assinou o seu primeiro contrato de trabalho ainda antes de defender o mestrado. Continuo a acreditar que aqueles que se esforçam têm sempre oportunidades – mesmo que a resposta “agora não posso, tenho de estudar” va, muito provavelmente, ser substituida por “agora não posso, tenho de trabalhar!” :).

Hoje é um dia feliz para todos. Principalmente para os meus pais. Os nossos estudos foram a prioridade deles. Em trabalho e em tempo. Somos de origens humildes – como se recordarão pelo texto que escrevi sobre a minha avo paterna. Acredito, por isso, que o facto de terem duas filhas formadas e com bons empregos, os deixe cheios de orgulho.

Parabéns mana! Tenho muito orgulho em ti. E na nossa familia :)!

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Adoro :)

Há uma colecção de BD que adoro. Na verdade descobri a “Sale Bête” numa feira de BD e apaixonei-me pelo hamster Bestiole. Achei tão giro que comprei o livro (nr 1) autografado para a Beatriz :). Agora recebi o nr 2. E não resisti a lê-lo.

É ainda melhor do que o primeiro :).

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(Moche = feio(a), horroroso(a))

O senhor da chronopost e a SNCF, num dia de peripécias…

E hoje regressei às peripécias na Côte d´Azur.

Os portões do meu condomínio foram mudados. Com isso mudaram também o intercomunicador. Um sistema ultra-moderno ligado ao meu telemóvel. Ou seja. Quando uma pessoa toca à minha campainha eu recebo uma chamada no telefone. Eu fico a saber que tenho visitas mas não sei como abrir a porta. Termino sempre por descer e receber as pessoas na entrada do prédio. O mais estúpido é que de todas as vezes que recebo uma chamada de amigos acho sempre que me estão a ligar dos seus telefones. Tenho preguiça de gravar os nomes (sou daquelas pessoas que vai às mensagens recebidas para recuperar um número que preciso – pura preguiça, eu sei.)

Hoje recebi uma chamada. Um número que me pareceu desconhecido. Atendi. Do outro lado uma voz masculina diz:
– Paula Pousinha? e mais não sei o quê – não percebi.
– A própria (disse em francês).
Fez-se silêncio. Passados segundos disse:
-Estou à espera e neste momento estou ocupada – o que é que tem para me dizer?
O senhor passou-se. Respondeu-me a modos que irritado.
– Madame… tenho uma encomenda (colis) para lhe entregar, não vou ficar aqui à porta toda à tarde à sua espera. Tenho mais do que fazer!
E a chamada terminou – o intercomunicador só faz chamadas de 30 segundos. E só nesse momento percebi que na verdade estava ao telefone com o senhor da chronopost no meu intercomunicador. Que deve ter ficado à espera que eu descesse :)! Mas eu estava no laboratório… Quando cheguei tinha o envelope (livro) na minha caixa de correio. Acho que o nome “Pousinha” não é dos mais bem considerados na chronopost :)!

Antes de vir para casa fui levar uma amiga à estação de comboios de Antibes. Acompanhei-a. Gosto de estações de comboios. Faz-me sempre lembrar o “Expresso do Oriente”. Sobretudo estes comboios nocturnos. Ela entrou no comboio – com direcção a Paris e, ao mesmo tempo, saíram 3 senhores da SNCF – semelhante aos revisores da CP. Tudo normal. A minha amiga dizia-me adeus no cimo das escadas e eu sorria-lhe. Enquanto isto os senhores SNCF colocaram-se ao meu lado. “Madame vou ficar aqui consigo!” Olhei para ele a sorrir e disse-lhe “Ah oui!” Respondeu-me “Sim, está a chover em Paris”. “Mas isso é normal em Paris!” Começámos a rir. Os quatro – eu e os senhores SNCF. A minha amiga sorria também, incrédula pela surreal da situação. Desejei-lhes boa viagem e regressei ao carro. A pensar que os piropos, quando correctos, podem ser divertidos.

:).