Até amanhã!
A minha filha tem andado a vasculhar álbuns e recordações. Fotografias de quando eu era miúda. Até acho giro. Era uma bébé mais que balofa gorduchinha e até aos 11 anos a minha mãe fez o especial favor de me cortar o cabelo à rapaz. Até que um dia um cliente do meu pai lhe disse “tem um menino tão giro e crescido!” Ahmmm Menino?!? A partir desse dia nunca mais quis usar o cabelo curto. Mas fui maria-rapaz até muito tarde! Disse à minha filha que na idade dela passava os intervalos a jogar futebol. Ela olhou para mim com aquele ar de não-estou-a-acreditar-que-a-minha-mãe-me-está-a-dizer-isto e disse: -mamã essa é a primeira regra no código das raparigas – “Não jogar à bola nos intervalos”! Ups! Código de raparigas… Meeeeedo.
A verdade é que eu não me lembro de ter vestidos cor-de-rosa. Nem tão pouco de ter gostado de cor-de-rosa. No meu imaginário não existiam princesas. Só a princesa Diana, mesmo. As paredes do meu quarto estavam pintadas numa cor estranha. Que se pretendia cor-de-rosa, mas que era outra-coisa-qualquer diferente disso. Lembro-me que não era bonito. Mas a tinta tinha restado não sei bem do quê e sempre alegrava a coisa. Eu não era uma miúda fácil. Ou isso ou passava muito tempo sozinha em casa. Na escola aprendi a fazer circunferências sem compasso. Um pionés. Uma linha. Um lápis. É tudo o que é preciso. Pois bem. Farta da parede cor-de-rosa-que-não-era-cor-de-rosa, desenhei um simbolo da paz com um metro de diâmetro. Gastei o guache preto todo. Mas ficou giro :D! Até o meu pai chegar. E ter ficado calado por nada conseguir dizer.
Mas este fim-de-semana percebi que a educação mudou muito. A minha filha vestiu cor-de-rosa. E desde pequenina que lhe chamamos princesa. E vestiu-se de multiplas princesas nos diferentes carnavais. E toda a sua infância foi mergulhada neste imaginário encantado.
Ora bem. No meu caso a estória é bem diferente. As minhas máscaras de carnaval nunca foram de princesas. A mais colorida que tive foi de arco-íris e já deveria ter uns 9 anos. Encontrei uma fotografia de mim vestida à “Sopeira” imaginem. E ainda me lembro de dizerem “Ai que Sopeira tão gira!” E eu muito orgulhosa, vestida de sopeira, qual-futuro-brilhante! É que nem era de governanta! Era mesmo de Sopeira!
Até tinha postura de Sopeira. Direitinha. Quietinha. E assim um bocadinho tímida e tudo!
Outros tempos. Minha estória.
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