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Ouvir o Júlio Machado Vaz a falar do “agoradigoeu” é uma alegria indescritível…

Passei os últimos dias num congresso. Reencontro com amigos e outras caras que  têm feito parte do meu percurso científico. Uma destas minhas amigas perguntou-me: “Olha lá tu tens um blog?” Eu respondi-lhe que sim, pensando que tinha ouvido falar por outras amigas – mas não! “Tu sabes que és famosa? No outro dia estava a ouvir o Júlio Machado Vaz (JMV), na Antena 1 e ele falou de um blog que é escrito por uma doutora Paula Pousinha e eu pensei que pessoas com o teu nome, não devem existir muitas!” E eu fiquei sem palavra! Encontrei a gravação no site da antena 1.

http://www.rtp.pt/play/p266/e109697/o-amor-e-fim-de-semana

A referência ao agoradigoeu acontece a partir de aproximadamente 1/4 da gravação. E emocionada ouvi de JMV: “Quando estava à procura de informação sobre isto fui à net e encontrei uma coisa deliciosa. Encontrei um blog que se chama agora digo eu, e depois em subtítulo tem “porque às vezes me apetece dizer com os dedos para que me ouçam com os olhos” – isto é muito bem dito. É perfeitamente público – é da doutora Paula Pousinha, e então ela teve uma ideia muito curiosa, de vez em quando convida uma pessoa e fazem um diálogo a quatro mãos (e não sei quantas teclas) e convidou o Ricardo Alves Lopes. E qual era a frase, qual era o mote? Era uma frase do velho Proust “deixemos as mulheres bonitas aos homens sem imaginação” – É uma frase lindíssima. E que me fez lembrar meu pai. O meu pai fazia um sorriso e dizia: “Meu filho nunca encontrei uma mulher que não tivesse algo de belo”. E o programa continua, com referência ao que eu ou o Ricardo escrevemos nesse post!

Obrigada, a todos vós, por partilharem, o que escrevo, nas redes sociais. Este episódio tem, de facto, um grande significado para mim! Fiquei contente! E orgulhosa deste cantinho 😀

“Uma vida não questionada não merece ser vivida” a 4mãos com Jhonatan Matos.

Jhonatan Matos é autor do blog estilhaçosmentaisblog.wordpress, um blog que teve o seu início em Janeiro de 2011 que nas palavras do autor “Era uma experimentação, uma tentativa de divagar sobre o mundo, de testar uma ferramenta virtual de escrita e de atender um velho conselho de alguns amigos”. Após uma pausa o estilhaçosmentais entrou numa nova fase, em Outubro de 2012 – Porque “escrever é certa necessidade, é uma espécie de maldição que algumas pobres almas carregam. E ato de traduzir os sentimentos e exorcizar suas experiências através das palavras, liberta.”. As estatísticas do blog não sao públicas. Tem uma imagem divertida que rebusca traços simples e cores vivas. O convite surgiu porque o Jhonatan tem sido uma presença constante no agoradigoeu, sempre contribuindo com os seus comentários e observações. Habituei-me à sua escrita e às suas estórias, rebuscada em realidades quentes e tão mais fluidas do que às formalidades deste lado do oceano. Escrever este a 4 mãos foi um enorme desafio. Separa-nos um corredor de água, a dimensão dos nossos países,… une-nos o português como forma de expressão e o prazer pela escrita.

A frase escolhida é de Platão:

“Uma vida não questionada não merece ser vivida”

Ela (PP)

Questionar a vida… É o que fazemos todos os dias. Duvidam? Estou a falar a sério! O que mais fazemos é questionar a vida dos outros! Ironia à parte, e se vos perguntar directamente “Questionas a tua vida?” Acredito que respondas afirmativamente – afinal somos seres providos de pensamento, de ideias e de valores. Para mim, a diferença não está no questionar ou não a vida. Na verdade considero que a grande diferença está ao nível do tipo de questões que cada um se coloca, o que, por seu turno, se relaciona com as vivências que se vão experimentando no decurso da vida. Para alguns a vida é linear. Para outros o linear é insuficiente ou inexistente.

Por experiência própria não é bom questionar demais… O que é que isto significa? Porque é que escolhi este caminho em vez do outro? O que é que perdi com isto? O que é que ganhei com aquilo? De que é que preciso para me sentir serena? Estou a ser verdadeira comigo? O que é que eu quero fazer? Quem é que eu quero ser?… Há ainda quem questione opções passadas e viva vidas paralelas nos ses… E se eu tivesse escolhido virar à direita? Como teria sido essa estrada? Como estaria hoje?… Enredando-se numa teia que confunde o presente com o passado, sem que o futuro alguma vez possa ser presente.

Já questionei mais do que questiono – o que não significa, porém, que questione pouco. Não perco tempo a pensar nas opções passadas – sei que tomei a melhor decisão com os dados que tinha, no momento em que tomei a decisão. Não faço planos a longo prazo – a vida ensinou-me que há variáveis que não controlo. Não tenho o sonho de ser rica e prefiro ser antes conhecida pelo meu nome, do que pela minha cara. Voltar a acreditar numa vida a dois é um compartimento com um enorme ponto de interrogação – sobretudo porque perdi a chave da porta e não sei como abrir… Ser mãe é o único projecto que quero deixar por completar – porque desejo que se continue por mais dias do que os meus!

Ele (Jhonatan Matos)

As crianças, além de sujar as roupas, correr pelas ruas, sonhar, imaginar, se lambuzar com doces e admirar heróis em quadrinhos, também fazem algo essencial e encantador: questionam. Conhecida como a fase das perguntas, a infância é carregada de dúvidas e questionamentos, de anseios e curiosidade, de magia e descoberta, de perguntas e ampliação de conhecimento. Entretanto, inevitavelmente, se comete um erro: crescemos.

Em geral, a escola já não permite questionar as “verdades consagradas”, encontradas nas disciplinas engessadas em livros volumosos. A família já não tem paciência com crianças curiosas e lhes dão uma recomendação sutil ao estilo “cale a boca e obedeça”. O trabalho, ainda mais, nos oprime a uma ditadura corporativa em que o único ato aceitável é trabalhar muito e quem sabe um dia ter autonomia para questionar a “política interna”. Assim vamos ficando cinza. Vestimos a máscara do comodismo e vivemos seguindo, como cidadãos exemplares, a maré, também cinza, do inquestionável.

Platão foi duro ao dizer que “uma vida não questionada não merece ser vivida”. Porém foi sincero e, atendendo ao seu manifesto, questionador. Só os questionamentos e a insatisfação nos salvam de viver como máquinas, respirar como máquinas, transar como máquinas, nos tornar sem alma e servis como máquinas.

Por isso, devemos questionar tudo a nossa volta e, como crianças novamente, abusar dos “por quês”, dos “quandos”, do “acho isso errado”, do “vamos fazer diferente”, do “será?” etc. Quem sabe assim, evitaremos ficar presos a uma vida cinzenta pela falta de interrogações e lotada de reticências. Quem sabe assim nos livremos dos cancerígenos pensamentos de “é assim, porque é”, “sempre foi assim e sempre vai ser”, “não podemos mudar nada”, “sim senhor, obedecerei sem questionar”…

Façamos por merecer a vida e que o mundo não nos oprima a deixar de ser, na medida do possível, sonhadores eternos, crianças curiosas, adolescentes esperançosos e adultos com vida e com cores (na alma).

Salve Platão, viva a vida questionada!

Slide1Até breve…

“Apenas amamos aquilo que não possuímos por completo.” A 4mãos com André Filipe Sucena.

André Filipe Sucena é autor do blog ritualdohabitual – um dos meus blogs preferidos. Sobre si escreveu “A minha paixão é escrever ficção — criar mundos e personagens e relações complexas entre os dois — mas como o perfeccionista miserável que sou, é meu fado ser demasiado auto-crítico para escrever algo tão grande como um livro. Enquanto não amadureço nesse sentido, lá vou escrevendo disparates mirabolantes no campo da não-ficção, para manter o teclado quente.” Acompanho o ritualdohabitual desde o início do agoradigoeu. Tem uma escrita inteligente e depurada, textos que reflectem as suas idiossincrasias e que por isso os tornam tão seus. Os números do blog não são públicos, sei apenas que tem 537 seguidores.

O convite surgiu espontaneamente e de modo público, num comentário a um post. Ambos escrevemos sobre os termos que as pessoas escreviam no Google para serem reencaminhadas para os nossos blogs. Ele concluiu que só depravados liam o ritual do habitual. Pelo contrário, o agoradigoeu parece ser lido por pessoas de coração partido. Comentário puxa comentário para chegarmos à conclusão que poderiam existir alguns links entre depravados e corações partidos. Este a “4 mãos” foi um enorme desafio. O meu muito obrigada André.

A frase por escolhida foi de Marcel Proust

“Apenas amamos aquilo que não possuímos por completo.”

 Ela (PP)

Possuir. Possuir. Ando às voltas com isto e não sei o que escrever. Epá tudo o que eu não quero é possuir uma pessoa, muito menos por completo! As pessoas não são coisas.

Há uma expressão curriqueira (a qual muita gente acha especial) que me eriça a franja (caso a tivesse). “Eu entreguei-me, por completo, à relação!”. Isto parece o almanaque das terapias de casal – assim a jeito de encomenda DHL – oferta smart box. Já repararam que à medida que ficamos mais velhos (e dizemos que ficamos mais exigentes) vamos racionalizando mais as emoções? Há um verdadeiro jogo do gato e do rato, de check list em punho: enviou sms a dizer miss you, telefonou à hora de almoço, não tem fotografias em bikini no facebook, está sempre disponível para falar comigo, responde a todas as perguntas sobre o passado, após análise detalhada do telefone não existem “coisas estranhas”, é vegetariana como eu, gosta de… e a lista vai continuando, dependendo do nível de exigência (ou burrice) de cada um. E não estranharão se aqui escrever que existem os chicos-espertos, aqueles que numa ginástica admirável analisam opções em várias frentes. E deve chegar um momento em que pensam: “Está no papo! – já me posso entregar à relação” (confesso que não sei bem o que isto quer dizer) – para depois perder o interesse…

Deixemo-nos de merdas. O que ninguém quer, é amar sem ser amado. E se há coisa que a idade traz é o medo. Sim, o medo. Aos 16 anos o amor é uma descoberta, sobretudo de nós próprios. Eu sabia lá se possuía ou não o moço. Eu gostava de fazer coisas com ele e sentia que era um sentimento recíproco. E é tudo! Passaram quase duas décadas (e não, não estou velha!). As experiências por que vamos passando tornam-nos mais cépticos e (umas quantas vezes) mais irónicos. A capacidade de amar vai-se perdendo (talvez não seja a capacidade de amar… talvez seja o acreditar no amor), como grãos de areia que queremos reter na palma da mão. Não é o desejado, é apenas o facto da realidade se tornar menos endeusada do que a ingenuidade tende a fazer parecer. O amor não deve ser, na minha opinião, uma relação de posse. Gosto de pensar no amor como uma relação em que os amantes têm a liberdade de se escolher um ao outro, por se quererem e admirarem, sobretudo nas suas individualidades.

Ele (André Filipe Sucena)

O desejo provoca sofrimento, todos desejam algo, logo a vida é sofrimento. A única maneira de não sofrer seria o cessar do desejar.

O sofrimento é inevitável. Logo, sofrer torna-se tão opcional como o gostar, ou não, de respirar. Basta aceitar o sofrimento como outra qualquer reacção química de um cérebro saudável e não como um defeito de carácter pessoal. Ao classificar o sofrimento como algo mau não o estamos, de todo, a aceitar, apesar de ser evidente é que esta dinâmica desejo-sofrimento que é responsável pela civilização como a conhecemos hoje.

Consideremos os nossos antepassados de há umas boas décadas de milénio atrás. Durante o dia, talvez fossem inimigos, rivais, concorrentes. No entanto, durante a noite, enquanto jaziam cansados à volta do fogo e partilhavam estórias, algo de humano emergia. Imagine agora que é um desses homens-macaco – acha mesmo que iria sentir qualquer empatia por outro homem-macaco se o género de coisa que ele guinchasse fosse: “Ahah, matei três gazelas hoje e ainda fiz o amor australopiteco com quatro mulheres-macaca e um javali”? Claro que não. Como protótipo de humano com o sangue quente que seria neste cenário, o mais provável seria pegar num pedregulho e esmagar o crânio do sacana enquanto este dormia, urinando-lhe de seguida para cima do que restasse da sua massa cinzenta, enquanto batia com as mãos no peito.

No entanto, se esse mesmo homem-macaco lhe revelasse frustrações que, por acaso, fossem semelhantes às suas, tal provocaria uma sensação estranha e doce no seu diafragma. A compreensão da dor do seu semelhante. O seu cérebro primitivo exclamaria algo do género “Jesus Símio, este sujeito é tal e qual como eu,” e ficariam os dois a olhar para as estrelas, de uma forma estritamente heterossexual, contemplando se aqueles pontos de luz no meio do nada não seriam também outros homens-macaco reunidos à volta das suas respectivas fogueiras, a terem exactamente a mesma epifania. Nasceria então um elo estranho entre vocês, que só viria a ser definido no tempo dos filósofos – a amizade.

O desejo-sofrimento foi a maneira que encontrámos, enquanto espécie, de aceitar os outros como nossos iguais. O desejar, em si, é vazio. As sensações de orgulho, satisfação e alegria que possam surgir no momento em que um desejo é alcançado logo dão lugar a um sabor amargo na boca e a um cru “…e agora?”

Procedemos então à busca de um outro melhor desejo.

Um desejo que nos faça sofrer durante tempo indeterminado pela simples razão de que é isso que é o melhor para nós. O nosso inconsciente sabe bem que é o sofrimento que nos torna em seres humanos aptos a simpatizar com outras almas miseráveis.

Um desejo tão caracteristicamente específico que pode ser metaforizado como a cenoura pendurada a alguns centímetros à frente da mula – o suficientemente longe para o bicho nunca lhe conseguir chegar, o suficientemente perto para não o deixar ver mais nada à frente – persuadindo-a a tentar dar sempre mais um passo, alheia ao absurdo que a rodeia. É um desejo que aparenta ser alcançável não o sendo, provocando um conflito interior entre a esperança ilógica e a racionalidade.

Talvez seja essa a razão porque a esperança estava tão bem guardada no fundo da caixa de Pandora – numa certa perspectiva, talvez seja mesmo o pior dos males. É a esperança, afinal que nos faz acreditar que, quanto mais tempo ou com quanta mais “força” desejarmos algo, mais hipóteses teremos de o alcançar. É a esperança que nos faz crer que, se trabalharmos uma vida inteira, seremos, eventualmente, e nem sabemos bem como, felizes. É a esperança que nos leva a pôr cordas aos pescoços, convencendo-nos que iremos satisfazer o paradoxal desejo de acabar com o sofrimento. É a esperança que nos faz dar o milionésimo passo em direcção à maldita cenoura.

Mas não, a esperança é também neutra. Tanto amplifica o sofrimento sempre que a realidade se torna menos endeusada do que a ingenuidade tende a fazer parecer, como é solidificada por este sempre que o sofrimento provoque uma reorganização mental que leve a uma construção de melhores fundações para a nossa fé.

A relação esperança-desejo-sofrimento é simbiótica. Sem um conceito, deixam de existir os outros dois. Se nós amamos aquilo que não podemos alguma vez possuir, é porque é essa loucura que mantém a roda bem oleada. No final de contas, é apenas este suado ménage à trois que nos dá algo para nos entretermos enquanto aguardamos na fila de espera para o vazio.

AFS

“Quem vive sem loucura não é tão sensato como pensa.” A 4mãos com Miguel Pestana.

Miguel Pestana é o autor do silênciosquefalam.blogspot, um blog que iniciou em 2010 para, segundo o próprio, partilhar algumas divagações recorrentes, por escrito. O mundo dos livros acabaria por se tornar o seu principal foco de interesse, constituindo hoje um dos blogs de referência para os amantes da leitura e de uma boa crítica literária. Os números falam por si: 2919 consultas no perfil, 2969 likes na página do facebook, 1207 membros na rede do google, 208269 visitas. O convite surgiu porque o Miguel comentou uma fotografia no agoradigoeu e pelo seu comentário percebi que é uma pessoa de pormenores. Já conhecia o seu blog e ao analisar melhor o perfil achei interessante o facto de um blog sobre livros e muitas leituras ter sede na ilha da Madeira. As ilhas sempre me fizeram sentir limitada e ao mesmo tempo à deriva. Acredito que os seus livros são as suas jangadas e as suas asas, ou quem sabe as suas amarras! Ficará com ele esta resposta. Aceitou o desafio no instante do convite, o que muito agradeço.

A frase escolhida é de François La Rochefoucauld

“Quem vive sem loucura não é tão sensato como pensa.”

Ela (PP)

Loucura e sensatez são conceitos opostos. O louco é imprudente, irreflectido, extravagante… O sensato, por oposição, é circunspecto e prudente. E se estas palavras tivessem cores? De que cor pintaríamos a loucura? …de vermelho. Eu pintaria de vermelho! Porque é explosiva. É quente. É descontrolada e volátil. E a sensatez? Por três vezes tentei não escrever cinzento. Andei aqui às voltas com a palete das cores. Podia ser azul… Não, claro que não pode ser azul! E roxo? Não. Tem de ser cinzento. É a cor do cimento. É sólido. É constante. Por vezes tenho destas infantilidades… a de atribuir cores às pessoas, aos conceitos, às coisas,… Como se assim reduzisse o que classifico a sensações. É um quase voltar à infância, em que podemos desenhar elefantes com asas e pintá-los de cor de rosa. Em que o sol usa óculos escuros e as nuvens são azuis. Afinal mudei de opinião. Acho agora que não pintaria a loucura de vermelho. Não! A loucura pode ser um arco-íris. Porque se pensarmos bem, na infância todas as loucuras são aceites.

E crescemos. Tornamo-nos adultos. Responsáveis. Sensatos. E de que cor é a nossa vida? Cinzenta! A preto e branco se substituirmos o desenho por uma tela de cinema! E os dias sucedem-se. O sol é apenas o sol. Os elefantes vivem na Savana. As nuvens brancas adivinham chuva. E tudo é tão sensato (e previsivel) que aos dias já não perguntamos que outros dias virão. Será isto viver? Não! O que é que falta? Faltam as cores… as pequenas loucuras que à vida dão sabor.

A maior parte de nós tem medo de viver um amor louco. Mas acredito que menos serão aqueles a querer viver um amor sensato. Que sejam pontos equidistantes do equilibrio. E que saibamos caminhar para esse equilibrio… sem nos queimarmos na volatilidade da loucura… sem nos petrificarmos no cimento da sensatez, porque em ultimo “Quem vive sem loucura, não é tão sensato como pensa”.

Ele (Miguel Pestana)

Quando conseguimos atingir um dos nossos objectivos traçados, seja a nivel pessoal, profissional, etc., normalmente o alcançamos seguindo os trâmites correctos cingidos pela sociedade. Muitos desses feitos são mérito do nosso esforço e coragem. Mas vamos ser sinceros. Que piada tem a nossa vida se não corrermos riscos? Não termos um futuro muito planejado é meio caminho para deixarmos os momentos acontecerem; não digo sermos radicais, mas às vezes sabe bem «pular de cabeça» sem saber se existe um chão firme em baixo ou uma mão disposta a nos segurar, caso algo corra mal. Um pouco de adrenalina faz-nos sair da nossa zona de conforto. Dou um exemplo. Numa viagem que fiz em conjunto com amigos, há uns anos, ao Brasil, após termos nos acomodado no hotel, eu decidi aproveitar e conhecer a noite brasileira. Para mim tudo era uma descoberta, e já que estava de férias, queria era me divertir. Ninguém quis me acompanhar, por receio que nos pudesse acontecer algo, sermos assaltados, raptados, sei lá. Nessa noite, lembro-me muito bem, fiquei preso num dilema: ser sensato ou viver a vida sem medos? Posso afirmar que essa foi uma noite fantástica. É certo que corri riscos, mas na minha mente, nessa noite, não existia pensamentos negativos. Sou apologista e cultivo emoções positivas. Maus augúrios quero-os bem longe de mim. Quem nunca vive com loucura é como quem vive sempre com medo (esta frase é minha, acabou de «sair de mim!»).

Sou da opinião que a ausência de loucura na personalidade de uma pessoa tem muito a ver com a educação, o tipo de infância vivida, os ensinamentos que nos imputaram, etc. Somos um bocadinho aquilo que ensinaram aos nossos pares sociais. Não costumo ter medo. Já tive medo de ter medo. Hoje não, felizmente, e é por isso que enfrento os momentos bons e difíceis sempre de frente e com prontidão.

Há momentos e fases da nossa vida em que é sensato sermos comedidos, mas há momentos, principalmente na adolescência, em que temos de agir, não digo sermos influenciados ou acomodarmo-nos com as atitudes dos outros, imitando-as, mas sermos e agirmos tal como a nossa essência nos dita. Portanto, o meu lema é ser louco, mas sensato.

miguel pestana

Até breve…

“Uma relação nem sempre termina porque não é feliz. Às vezes termina para preservar a felicidade da memória.” A 4mãos com HomemSemBlogue

É o autor do blog homemsemblogue. Anónimo, suscita a curiosidade dos inúmeros leitores que consultam o seu perfil, em busca de alguma pista. Os números falam por si: 15 895 visualizações de perfil, 574 membros na rede Google, mais de 300 seguidores no facebook e quase meio milhão de visitas no blog (pronto, agora senti-me uma formiguinha como autora do agoradigoeu). O convite surgiu porque gostei da interactividade que mantém com os seus leitores. Os posts terminam frequentemente com uma questão e são muitas as iniciativas que desenvolve, para tornar dinâmico o homemsemblogue. Respondeu-me com uma enorme disponibilidade (que publicamente agradeço), tendo arranjado tempo na sua agenda – muito provavelmente roubando horas ao sono – para escrever comigo este “A 4mãos”.

A frase escolhida é de Fabrício Carpinejar :

 “Uma relação nem sempre termina porque não é feliz. Às vezes termina para preservar a felicidade da memória.”

Ela (PP)

Tretas! Deixemo-nos de floreados. Uma relação termina porque um dos elementos (se não forem os dois) está farto do outro. Deve ser com base nesta frase que há aquela conversinha, normalmente iniciado por aquele que está farto: -Tu és uma pessoa muito especial, tens esta e aquela qualidade que não existe em mais ninguém, foste o amor da minha vida e eu sei que não vou encontrar ninguém como tu! (quando na verdade queria dizer –Já não aguento mais olhar para a tua cara de enfado, ir à casa de banho e ver a porcaria da tua escova de dentes, ter a tua roupa a ocupar espaço no cabide – vê mas é se te pões a andar e me deixas em paz!).

Somos uns cobardes, é o que é! Arranjamos maneira de chegar tarde a casa (o trabalho – afinal alguém tem de ganhar dinheiro! – é a melhor das desculpas), mas no fundo, o que se pretende é adiar o FIM. E os dias vão passando, até que um dia surge um elemento incontornável: uma factura detalhada do telemóvel, uma conta de motel, um email comprometedor, uma conversa de chat… E é nesse momento que aos silêncios se sobrepõem as acusações, desilusões, humilhações… Nesse dia não existirá a memoria dos tempos felizes – esses foram vividos há tanto tempo, que deles já não existe memoria! Na verdade as fotografias – provas documentais desses tempos – tornam-se imagens estranhas, como se de outras pessoas se tratassem – o que em certa medida não deixa de ser verdade…

As relações terminam porque não existe amor! Seria bom que terminassem com respeito pelo que se viveu. (Fosse o amor racional… Mas não é!). Respeito pelo que se viveu significa respeitar o outro. Não esperar ter substituto para fazer a troca – o/a outro(a) é sempre muito mais interessante, divertido(a), muito mais tudo… Afinal com o/a outro(a) não existem obrigações e chatices… Significa conseguir dizer “deixei de te amar”. Significa aceitar que o outro deixou de amar. Os porquês poderão ficar para mais tarde. Por hora há apenas uma coisa a dizer: “Adeus” – se for uma mulher a ser deixada o mais provável é que diga “Fica bem, espero que sejas muito feliz!”.

As mulheres são um espécime tramado… Mas são (quase) sempre elas a decidir o FIM! E não… não é para preservar a memoria dos tempos felizes! Muitas vezes é para deixar de ser parva!

Ele (HomemSemBlogue)

Sou uma daquelas pessoas que acredita no clássico “foram felizes parasempre.” Sou um sonhador, podem dizer. Um romântico inveterado, direieu. Mas não acho que este cliché seja aquilo a que se chama um finalfeliz. Para mim, ser feliz para sempre é o rumo natural de uma bela e apaixonante história de amor. Daquelas que todos sonhamos viver. Que todos pensam ter encontrado quando se entregam a alguém. Ou seja, é uma das coisas que nos dá alento na vida. É a procura de um amor que nos faça sentir assim. Porém, há muitas histórias que não chegam a este ponto. Relações que correm mal por uma qualquer razão.

Divergências que levam um casal a seguir caminhos opostos. E neste domínio, não acredito em finais felizes. Não acredito ser possível terminar uma relação a bem. Por mais cordiais que sejam as pessoas.

Por mais correctas que sejam. Para mim, acabar uma relação a bem passa apenas e só por um diálogo adulto entre ambos. Sem discussões. Sem guerras e ofensas que não vão alterar nada. Todavia, acredito na frase de Fabrício Carpinejar, que diz que “uma relação nem sempre termina porque não é feliz. Às vezes termina para preservar a felicidade da memória.” E acredito nisto porque acho que muitas pessoas vivem relações que não correspondem aquilo que pensavam sentir. Casais que chegam à conclusão de que não são nada mais do que bons amigos.

Relações que se desgastam ao longo dos anos. Por variadas razões as pessoas deixam de sentir aquela chama apaixonada que causa borboletas na barriga. Deixam de sentir a emoção que pautava as suas rotinas sempre que o amado(a) estava presente. E, nessa altura, defendo que a relação passa a ser apenas de amizade. Perante este cenário, muitos optam por encontrar o amor noutras pessoas. Envolvem-se com outros.

Passam a ter vidas duplas ou triplas. E a distância em relação à outra pessoa continua sempre a crescer. Até que se chega a um ponto de ruptura, normalmente marcado por acesas discussões. E, perante este cenário de guerra não se consegue preservar nada. Só ódio. Porém, existem pessoas que têm o discernimento suficiente para perceber que o amor morreu. Deixou de existir. A felicidade está lá mas já não vive ao lado do amor. E, numa atitude de coragem acabam a relação. Desta forma acredito ser possível preservar as boas memórias do tempo que durou a relação. Nisto acredito. Mas, há algo em que não acredito.  Refiro-me à amizade entre duas pessoas que se separam. Não acredito ser possível ficar amigo de alguém que se amou ou ainda ama. Acho que o amor impede que exista amizade. Só muito tempo depois do final da relação é que poderá existir essa amizade. Há ainda outro detalhe que não me deixa qualquer dúvida. O amor é um dos mais belos temas do mundo. Nunca se esgota. Nunca cansa. E pode passar-se horas de volta dele sem repetir um ponto de vista.

homemsemblogue

Até breve…