Sento-me no sofá de todos os fins de dia. Este. Na varanda do meu refúgio de onde posso ver o azul do mar. Neste canto de França em que o mar é mais azul do que o céu. Quero escrever-vos sobre isto! Mas ainda não encontrei a forma de o fazer…
Hoje acordei e fui comprar o jornal. Ofereci-me o pequeno almoço na esplanada. Porque precisei deste momento comigo. Há (quase precisamente) três anos escrevi este texto (aqui), no qual tornava público o que estava a sentir em relação a Portugal. A falta de reconhecimento. A falta de oportunidades. A falta de esperança… em último! O tempo sarou algumas feridas. Reconciliou-me com alguns dos fantasmas do passado. E existe (ainda) em mim uma réstia de ingenuidade, que me permite acreditar que um dia poderei voltar… e trabalhar naquilo que melhor sei fazer: ciência e ensinar ciência. No país que é o meu: Portugal!
Na vida tenho corrido riscos. Porque sinto que se tudo correr mal tenho os meus pais. E tenho também esta força hereditária veiculadas por mulheres do meu passado. A minha avó Rita. A minha avó Ludovina. Mulheres de outro tempo. De quem tenho saudades… Tenho orgulho nas minhas origens. Muito humildes.
Nasci em 1978. Num tempo e numa família que me fez acreditar que é através do conhecimento e do esforço que chegamos mais longe. Cresci numa casa sem livros antes de mim. Compreendo hoje que a minha determinação reside nesta vontade fazer existir o meu nome: Pousinha. Porque há duas gerações este era o nome de pessoas (quase) nómadas. Que trabalhavam à jorna num país rural. Pessoas sem terra nem alfabeto. Pessoas consideradas (quase) ninguém. O meu pai e a minha mãe proporcionaram-me este sonho. Que tem sido esta aventura que é a minha vida. Desde o tempo em que nenhum resultado era suficiente…
Hoje fui notícia por terras napoleónicas. A jornalista, mesmo sabendo-me portuguesa apelidou-me de “azuréenne”. E eu aceito. Porque a Côte d´Azur se impregnou na minha pele. E porque foi em França que amadureci cientificamente. Paula Pousinha. É o meu nome. É o nome da minha família. Que a minha filha porta. Sinto orgulho.
A minha filha sentirá também orgulho.
Pouco mais importa!