Sair ou ficar. Este é um texto sobre emigração.

De há uns tempos a esta parte tenho lido textos de opinião no P3, sobre a emigração. Os que ficam e os que saem lançam-se em prosas argumentativas, por vezes acusatórias. Os cibernautas, por seu turno, trocam comentários preenchidos de ignorância e mal-dizer, nas redes sociais.

A decisão de emigrar é pessoal. Tem mais a ver com a desilusão a montante do que com o sucesso (imaginado) a jusante. Eu diria que não é muito diferente de um divórcio. E eu vivi os dois. 

Há quem decida manter um casamento. Mesmo que não exista amor. Mesmo que exista desrespeito. Mesmo que não exista esperança. Mesmo que existam maus-tratos. E há quem opte pelo fim da relação. Ambas as atitudes são criticáveis. Mas ambas são, também, legítimas. Assim é com a decisão de sair do país. 

Sair da zona de conforto é uma aprendizagem. O tal desenvolvimento pessoal que os livros vendem em teoria. O divórcio ou a emigração são momentos traumatisantes na vida, ou pelo menos o foram, na minha. Se me perguntarem se me arrependo. Não. Em momento algum pensei que poderia ter sido diferente.

É natural que os que decidem ficar em Portugal o sintam como o melhor país para viver. O mais bonito. Onde se come melhor. Onde as pessoas são mais amigas. Onde as famílias são coesas. Onde os valores da palavra e da humanidade regem comportamentos. Onde o peixe é fresco eos frutos são doces. As casas são grandes e bem equipadas. Os cafés e os shoppings abundam, abertos até a meia-noite e todos os dias da semana. Ah e o pão. De forno a lenha e quentinho. 

É também natural que quem sai tenha uma outra visão deste mesmo país. O Portugal de governantes sem palavra. Das crises (só para alguns). O Portugal dos recibos verdes, dos contratos precários, das horas extraordinárias gratuitas. O Portugal que trata melhor os estrangeiros que os seus. O Portugal que deixa os seus velhos morrerem sozinhos em casas de tectos apodrecidos. O Portugal em que os doentes restringem medicamentos por falta de dinheiro. O Portugal que deixa morrer pessoas em estradas de fogo. O Portugal que se diz ser exemplo de crescimento sabendo que as suas crianças passam fome.

Portugal é o país em que nasci. Mas não é, necessariamente, aquele em que me sinto melhor. E isso é o mais importante. Para quem sai ou para quem fica.

A caminhar… se faz o caminho.

Tirei esta fotografia por acaso. Num início de noite de verão. Na praia.

Há várias coisas nesta fotografia de que gosto. Naturalmente o céu. Transporta-me para o céu da beira baixa, em dias de Agosto. Sentados na ladeira de pedras centenárias quentes adivinhávamos dias (também) quentes. Mas o que mais me atrai nesta fotografia é o movimento. Uma ilustração da(s) vida(s) sem que nela participe. Casais que seguem os seus caminhos. Em sentidos opostos. Que passeiam serenamente. Sem correr. De mãos dadas ou afastados. 

Gosto do fio eléctrico que atravessa as extremidades da fotografia. Gosto dos paralelismos da linha do comboio. Gosto de sentir que a cada pôr do sol se segue um outro dia. 

Captei este momento por acaso. Como acontecem, normalmente, as coisas boas da vida. Este foi o primeiro caminho que fiz com Christophe. Na altura ainda sem dar as mãos. Num final de tarde primaveril. De casaco amarrado à cintura e tenis all star. Os meus azuis. Os dele cinzentos. Foi o princípio do nosso caminho…

Bom Agosto para vós!

Elena Ferrante – a Amiga genial

Tenho andado entusiasmada com a tetralogia de Elena Ferrante. Estou no terceiro livro (a idade intermédia).

Trata-se de uma história de vida(s) que começa na infância, na Nápoles do pós-segunda guerra. Duas amigas de um bairro pobre. A filha do sapateiro e a filha do porteiro. Uma inteligente. Outra com dificuldades. Uma a quem os pais não deixaram estudar. Outra a quem os pais autorizaram sonhar. Livros que atravessam 50 anos de vida. Por vezes pensamos que a história vai ser uma, dez paginas depois o fim adivinha-se outro. Mas como na nossa vida, neste(s) livro(s) a incerteza é a constante que nos faz sentir vivos e nos tenta a virar a página.

Em Portugal tem o título de “a amiga genial”. Uma das minhas surpresas literárias deste verão. 

Bom fim de semana

Cactus em forma de coração… chez moi!

O meu jardim de plantas suculentas (ou grasses ou cactus ou o que lhe quiserem chamar).

Tenho estado a recuperar da cirurgia. As meias de retenção são o mais sexy que já vesti… perfeitamente adequado ao verão da Côte d’Azur. Tenho défice de ferro e ainda me sinto fraca, mas já não estou a tomar medicamentos para as dores. A biologia leva o seu tempo…

Hoje apeteceu-me fazer umas fotografias de alguns dos cactus que tenho na varanda. Durante os meses de verão coloco um aditivo na água de rega – que elas adoram. Ora vejam…

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Echiveria

 

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Crassula Budha´s Temple

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Sedum burrito

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Haworthia attenuata

Tenho de me dedicar a fazer etiquetas giras com os nomes delas – recordar a cadeira de plantas vasculares e taxonomia – já passaram 20 anos :)!