Sobrevivi ao snowboard. E foi “UAU!!” Nem percebo como é que ainda não tinha experimentado. De todas as vezes que caí de ski. Com uma perna para cada lado sem saber bem qual é qual. Andar com aquelas botas horrorosas em estilo Robocop X, enquanto tento equilibrar os dois skis com os batons – cuja função nunca percebi muito bem. O snowboard é tão mais livre. Adorei. As botas são quentinhas e confortáveis. A prancha não é pesada. E é tão bom deslizar… Naturalmente que caí… e caí… e caí… tantas vezes que lhes perdi a conta. Mas estava a nevar e a pista estava fofinha. A melhor parte é que mesmo com as quedas, de cada vez que me levantei – nada melhor para trabalhar braços e abdominais, só vos digo – progredi mais um bocadinho. E isso é muito motivador.
Já estou em Lisboa. Depois de uma semana com dores em quase todos os músculos – os que conheço a existência e os outros -. Tenho tido tanto trabalho no laboratório que só um fim-de-semana hiper físico foi capaz de me trazer ao mundo dos comuns mortais e me lembrar que continuo a precisar de ter conversas parvas, de rir… e de não pensar em sinapses, receptores, protocolos, experiências, papers, resultados, estatísticas,… No sábado saímos das pistas por volta das 16h30. Seguiu-se o jacuzzi para recuperar forças. A contra-gosto saí para jantar – um chocolate quente e caminha era tudo o que queria. Quais vinho quente e raquelete. Mas bom… lá fui! Estava frio. Qualquer coisa abaixo dos zero graus. Vestir. Vestir o quê? Epá os fatos e botas de astronauta, mesmo sendo quentinhos e fofinhos, são só mesmo isso: quentinhos e fofinhos. Com a agravante de me fazerem sentir um chouriço enchouriçado. Vá. Vou mas é vestir roupita quente MAS citadina. Com botas MAS bonitas – leia-se de pele sem pêlo – e sem aquelas coisas para não entrar neve.
Chegados ao centro do centro da estância. Não sei bem como dizer isto porque na verdade existe apenas uma rua. O centro do centro é o meio da rua. E restarantes? Ups! Rua deserta… Ah!! Uma tabuleta que indica “restaurantes”. E… os restaurantes são, na verdade, como que challets de montanha que ficam, imaginem, do outro lado da pista de ski… Hum… bonito! Restaurante de montanha – leia-se atravessar 500 metros de neve sem estrada – e com botinhas bonitas. Pois! Lá fui. Numa versão patinagem (muito pouco) artística. Escorrega à direita. Escorrega à esquerda. Mas aguentei-me. Cheguei frescota mas seca. E nada melhor do que um ambiente quentinho com lareira e outras pessoas que pareciam, como nós, refugiados do frio num ambiente familiar. O vinho quente sabe-me sempre a doce – como quando se cozem pêras em vinho tinto. Jantar óptimo. E nenhuma vontade de regressar. Só de pensar no frio. E no percurso de neve… Mas eu tenho sempre bons planos. “Vamos por ali. É mais perto.” E fomos. Em determinada altura coloquei o pé – que se afundou até ao meu joelho. E depois o outro – idem. Comecei a rir à gargalhada. Cada vez com mais neve – até que me estatelei verdadeiramente – quase coberta de neve. E não conseguia parar de rir – a imaginar as minhas botas cheias de neve por dentro. Quando enfim chegámos a porto seguro – tinha neve até nos bolsos e os meus pés uma camada de neve entre as meias e as botas. Mas não conseguia parar de rir de mim mesma – pela ridícula figura de citadina na montanha – num momento tão genuinamente infantil que me esqueci quem era para ser apenas criança.
Os momentos simples são tão mais genuínos!
(tirei esta fotografia no domingo de manhã. sem constipação ou afins. preparada para um segundo dia de snowboard. tenho as fotografias ainda na câmara. por razões óbvias não levei a minha reflex para as pistas – pelo que não há provas documentais das minhas quedas – mas depois mostro-vos as paisagens.)