Golfe Juan. Av. Frérès Roustan Golfe-Juan, Vallauris é a minha nova morada. O condomínio é um prédio do início dos anos 80, localizado na primeira linha do mar. Em todo o lado se pode ler “privé” e “interdit” para que todos cumpram as regras e respeitem os espaços privados e/ou comuns. E que regras! Eu até costumo ser cumpridora… A primeira aventura foi descarregar o carro. O “Monsieur Guyot” deixou-me a chave do apartamento num envelope na caixa do correio. Acontece, no entanto, que vim de carro e precisava de descarregar os trafegos (mais que muitos). E o comando do portão para entrar com o carro no recinto do condomínio? Pois, não há! E o que é que qualquer pessoa faria? Carro em frente do portão, naturalmente! O portão abriu (não foi milagre, foi mesmo o vizinho) e o carro entrou!
A casa tinha um cheiro indescritível e os elementos decorativos… sem palavras! Pareceu-me que estava tudo encardido. As paredes, as cortinas, o chão, tudo! O melhor foi mesmo colocar tudo em casa e sair para jantar. Sair… pois sim, seria bom! E tirar o carro do condomínio? Após 30 min de espera, primeira infracção: carro no lugar “privé” e ala que se faz tarde (na manhã seguinte tinha bilhete da guarda do condomínio – SVP, le parc est privé, la guardiéme – outros bilhetinhos estaria por receber)!
Em frente ao prédio existe uma linha de bares e restaurantes exactamente igual às Docas de Lisboa. A diferença é que a Marina é muito maior e os restaurantes têm muito mais “glamour”. Parece bem não é? Pois, a mim também me parecia bem, mas o melhor foi andar 3 Km, junto ao mar, até Juan Le Pins e comer o “Cheeseburger” na roulote a 4€! Ao caminhar comecei a sentir a carga emocional inerente ao facto desta ser a minha nova morada e não a rua do hotel em que estou a passar uns dias. A forma de olhar para o que está à nossa volta é completamente diferente. Os prédios, as paisagens, as ruas… sinto como irrelevante. Sei que vão continuar no mesmo sitio nas múltiplas vezes que por lá passar. O que não consigo deixar de observar são as pessoas. Os rostos… O que dizem as expressões? Estão tristes, contentes? Como é que se relacionam uns com os outros? Como é que se vestem?… E no meio de tanta gente sinto-me pequena e desprotegida. Penso que para nos sentirmos seguros num determinado local, é preciso conhecer a forma como funcionam as coisas. E eu acabei de chegar!
A Côte d´Azur deve ser o local mais povoado da França, por esta altura do ano. Confesso que só me lembro de ver tanta gente em Manhatan, algures entre a 34ª e a 51ª, após as 18h. Há pessoas, carros e motas por todo o lado. Aqui sente-se o peso da densidade populacional, nada, mas mesmo nada comparável com Lisboa. Estou expectante para saber como será a partir de Outubro.
Um dos primeiros programas que tive aqui foi ir ao hipermercado, mais precisamente ao Carrefour. E eu disse que existia muita gente. E no Carrefour existia uma multidão (fez-me recordar as imagens da promoção 50% do Pingo Doce). E não imaginam quão cansativo é fazer compras num hipermercado em que as marcas são todas diferentes daqueles que estamos habituados a consumir, no meio da confusão de pessoas e mais pessoas. As bancas do peixe, carne, queijos e outras tantas têm dinamizadores de vendas. Ou seja chamam os clientes como se estivessem na praça. A variedade de produtos é indescritível e há de tudo com sabor oriental. 3h. Pareceu-me uma eternidade. E foi, na verdade!
Os carros. Aqui há muitos carros de luxo. Dou comigo a olhar para dentro dos carros para ver o que é que aquelas pessoas têm de diferente. É estranha esta sensação, mas de facto nunca estive perante tamanha ostentação de luxo e que eu considero quase pornográfica. Sobretudo se me recordar da experiência que é ir à loja do cidadão dos Restauradores ou da Bela Vista. E é vê-los passar: Ferrari, Porshes (aos montes, mais parece o carro do povo), Rolls Royce, Maseratti, Lamborghini,… No início pensei que eram todos de 2006. Até que percebi que as matriculas francesas têm os códigos das regiões do país no mesmo local em que as nossas têm o ano de matricula. E o código da Côte d´Azur e Alpes Marítimos é 06. É quase anedótico!
A praia. Escrever sobre a praia não é fácil para mim. É provavelmente o local em que sinto mais a falta da minha filha. Ela vai adorar esta praia! A água é quase da temperatura do ar (26º/27º), uma piscina autêntica, sem ondas. Tenho aquele privilégio de sair de casa apenas com a toalha e voltar enrolada nela, de cabelo a escorrer e vestido na mão. Coloquei as toalhas no varandim a secar. Resultado: bilhetinho na porta – “SVP pas lign sur le balcon, la guardiéme”!
A guarda. A minha comunicação com a guarda tem sido por bilhetinho. Mas é de facto uma pessoa atenta e prestável. Deixou um papelinho na minha campainha para eu colocar o meu nome, o que fiz pela manhã. Após algumas horas já tinha a caixa do correio e a campainha de exterior com a inscrição “Pousinha”. Sim, porque aqui não há números de portas. Há apenas nomes.

A minha casa. Estou a começar a senti-la como minha. Limpei a casa incluindo os restos de chocapic debaixo do sofá (a falta de casas para alugar aqui é tal que os proprietários nem se dão ao trabalho de limpar a casa), retirei os quadros e cortinados encardidos do senhorio e decorei a casa com velas, molduras e alguns objectos que me recordam momentos/pessoas. Ainda não está completo, mas deixo-vos um bocadinho do meu espaço em Golfe Juan.

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