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“Quando é que refazes a tua vida?”

Há 10 anos nasci mãe. Mãe de uma única menina. Houve momentos em que senti vontade de ter mais filhos. Mas foram, incomparavelmente, mais numerosos aqueles em que senti (sinto) que só consigo amar a minha (única) filha. Bem sei que o amor aos filhos não se divide. Adiciona-se. Dizem-me os experientes. Mas que hei-de eu fazer com a minha ignorância?

“Quando é que refazes a tua vida?” é uma pergunta constante. Mais ou menos como aquela que fazem aos casais que estão juntos há mais de dois anos “Quando é que têm filhos?”. Como se tudo tivesse de ter uma ordem. Uma norma. Alguns ainda me dizem, em tom premonitório, “tu vais acabar por ficar sozinha!” como se “refazer” a vida fosse um jogo de cadeiras em que as possibilidades se vão reduzindo e “assegurar” uma cadeira fosse um objectivo primeiro.

Eu não tenho pressa. Nem a urgência dos óvulos envelhecidos. Nem a necessidade de ajuda para equilibrar as contas. Nem a ambição de ter mais coisas do que aquelas que tenho. Sobra pouco de mim para amar – ou para “refazer a vida”, como (quase) todos gostam de designar. E não raras vezes – quase todas as vezes – estou do lado da balança que menos dá. E nem é por medo ou por indiferença, mas por genuína incapacidade de ser diferente.

 

E era isto!

Lista de divórcio…

Fim de semana em passeio. Ruelas, lojas e lojinhas… E dei de caras com um “outdoor” com a apresentação dos serviços do espaço comercial: jóias para ele, para ela,… Listas de casamento e… (Pasmem-se amigos) LISTAS de DIVÓRCIO!

No meu tempo não havia destas coisas – é o que vos digo.

Já me tinham contado das festas de divorcio (com a fotografia do ex espalhada nas paredes, em forma de alvo, para os convidados se ocuparem a brincar com flechas), mas não conhecia esta prática de juntar à festa uma prendinha para o lar – e, olhem que dá jeito!

E era isto!
(Em contagem decrescente para ir a Lisboa 🙂 quase quase…)

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Novas famílias é sinónimo de novas fórmulas. Os teus e os meus são, sobretudo, os nossos filhos.

Os franceses são uns verdadeiros viciados em estatística. Independentemente do tema que possa estar em discussão o seu argumento tem, não raras vezes, o valor percentual médio em França. Foi em conversas deste género que fiquei a saber que o salário médio é de 1600€. Ou que o comprimento médio do pénis em França é de 16,0 cm – um valor que referem com orgulho face aos valores (que também sabem) dos outros países. Ou ainda que 2 em cada 3 casamentos terminam em divórcio.

O assunto divórcio tem estado na ordem do dia, isto porque em França a média de filhos por casal é de 2,41. Significa, por isso, que nas famílias recompostas (como eles designam) são frequentes os filhos dela, os filhos dele e os filhos dos dois, podendo a soma alcançar facilmente a cifra de 4 ou 6 crianças / adolescentes, por casal.

Neste momento está em discussão uma lei, a ser aprovada no início do próximo ano, que irá legislar a figura de padrasto/madrasta. A discussão tem estado acesa, já que que em muitas situações (talvez a maioria) os pais têm uma má relação depois do divórcio, não aceitando o padrasto ou madrasta do seu filho. Acham inconcebível a ideia de que estas figuras possam substituir os pais biológicos na ida ao médico, à escola ou na educação dos seus “mais que tudo”. Os padrastos/madrastas, por seu turno, alegam ter direitos, por exemplo a possibilidade de manter o contacto com os enteados, caso a sua relação com o progenitor biológico termine, porque com as crianças se estabeleceram laços fortes, para muitos foram verdadeiros pais adoptivos.

Novas famílias é sinónimo de novas fórmulas. Os teus e os meus são, sobretudo, os nossos filhos. Há pessoas que me perguntam se eu não tenho ciúmes da relação que a mulher do meu ex-marido tem com a minha filha. Como poderia? Serei sempre a sua mãe! Sentir o amor que existe entre a minha filha e a mulher do meu ex-marido deixa-me sobretudo descansada. Eu própria tenho-me sentido muito mais atraída por homens que são pais do que por homens sem filhos. Talvez porque esteja cada vez mais distante da ideia de voltar a ter filhos biológicos (e os homens também têm o clic clac lá por volta dos 35/40). Talvez porque para uma mulher que é mãe, o lado paternal não lhe é indiferente. Tal como gostar de mim significa gostar da melhor parte de mim – a minha filha – o reciproco é natural. Ou deveria ser.

Sejamos adultos nós. Os ex e As ex. Porque eles. Os filhos. Os dele. Os dela. Podem ser os Nossos. Os da mãe. Os do pai. Os da madrasta. Os do padrasto. Sejamos adultos Nós!

(até breve!)