Estou de regresso ao trabalho. Tenho esperança de estar em ritmo normal lá para quinta feira. É que além do facto de não me ser, propriamente, fácil acordar cedo, ainda existem (imaginem só) as inúmeras caixas de chocolate que os colegas trouxeram para o laboratório. Os momentos sociais (leia-se cafés) tornaram-se ainda mais longos. Eu explico. Uma pessoa decide perder 15Kg em 2014. Sim 15Kg – eu sei, é um bocado demais, mas vá, em Marrocos ensinaram-me que devemos partir sempre de um valor muito acima do razoável. Lá para Junho desço a fasquia para 2 quilinhos! Continuando. Uma pessoa toma um pequeno almoço saudável. Chega ao laboratório às 10h da manhã (o que não se pode dizer cedo) e passa 2h entre os cafés (e chocolates) do 1º e 2º pisos. Curiosamente a tempo de almoçar às 12h e de voltar ao Instituto, para mais uma sessão de cafés (e chocolates).
Saí de Lisboa no Sábado às 9h30 da manhã. Ainda pensei manter-me na cama – chovia que estava danado – mas o passeio não era propriamente ao Terreiro do Paço. Na vida de emigrante uma pessoa aprende a sair de casa para uma viagem de 2000Km, como quem sai para ir ao Porto. Desta vez optei pelo sul. O mau tempo adivinhava neve no norte de Espanha e devido a este episódio, neve é coisa que quero bem longe, quando estou em viagem. Elvas, Madrid, Barcelona, Perpignan, Nice. Feito! Foi uma viagem sem sobressaltos de maior. Passei o domingo com a sensação de que ainda estava ao volante – com a cabeça a ressoar os quilómetros de estrada, mas já passou.
Durante a viagem reparei em duas coisas. Primeiro: A quantidade de shoppings em Portugal e Espanha, à beira da auto-estrada (sobretudo na periferia das cidades, dentro das cidades e junto às fronteiras – que é como quem diz, em todo o lado). É impressionante. Sobretudo se pensar que durante os 700 Km que fiz em França não passei por um único. Dois: Se não existe um filme cujo argumento se inspire numa área de serviço de auto-estrada em Espanha, deveria haver!
Shoppings? Enquanto conduzia só pensava nesta lengalenga. Lá pelo fim dos anos 80 deve haver quem tenha pensado: “Vamos facilitar o crédito àqueles países da Peninsula Ibérica – como nunca tiveram nada, vão querer tudo. Vamos fazer shoppings e mais shoppings e ainda mais shoppings. Com luzinhas e promoções e lojas e diversões. E eles vão comprar e comprar e comprar. E nós vamos produzir e produzir e produzir. E nós vamos ficar (ainda mais ricos). E eles vão ficar na falência. E depois vamos ajudá-los. Vamos emprestar dinheiro. Com muitas garantias e muitos juros. Para comprarem ainda mais!… Pois.
A auto-estrada (grátis) que liga Madrid a Lleida não é muito diferente do imaginário dos filmes do farwest, em que cidades inteiras parecem ter sido abandonadas por gentes com pressa. Não existe vivalma e acumulam-se as fábricas, armazéns, urbanizações,… com letreiros que indicam que ali já existiu, mesmo que em tempos remotos, vida. O que não deixa de ser curioso é a existência de áreas de serviço a cada 5/10 Km. Para um português uma área de serviço significa que existe, além das bombas de gasolina, um espaço agradável para tomar um café, ir à casa-de-banho, comer… É bem verdade que se pode fazer isto tudo numa estação de serviço em Espanha, mas não é bem a mesma coisa! Começa logo por encontrar a área de serviço. Sim, não é fácil, acreditem! Uma pessoa vê um painel informativo: área de serviço com combustível, restaurante, cafetaria, hotel,… Sai da auto-estrada – sem qualquer iluminação, apenas a do carro. Rapidamente entra numa estrada de terra, esburacada, com uns letreiros escritos à mão a jeito de anunciar o local. Por vezes há ainda a indicação Club, só para o caso de, além do café, querer também uma companhia com metro e meio de pernas (a avaliar pelas fotografias das damas). O interior do que apelidam restaurante, é um misto de qualquer coisa com muito mau gosto. Vi de tudo. As máquinas de jogo não falham – parece que os espanhóis gostam mesmo de jogo – ora estão nas máquinas, ora nos jogos de mesa. O álcool não falta. Bem como as mulheres, de roupas prirosas em padrão tigrês-leopardo 2 números abaixo, que oscilam entre a versão bêbeda contente – com gargalhadas e cantorias – ou bêbeda zangada que manda *oder toda a gente da sala. A juntar aos espanhóis nativos, a este cenário de paredes decoradas com garrafas ou cabeças de touros embalsamadas, existe ainda o emigrante português. Sim. Olhamos uns para os outros sem dizer nada. Hum… Também és emigrante. Os diálogos fazem-se na casa de banho. “Ainda lhe faltam muitos? Ah vai para Marselha? Eu vou para Bruxelas. É mais um bocadinho! Então boa viagem!” Falta-me dizer que o café é uma *erda!
Até breve!
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