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“O Sol de Abril”, uma peça notável do Núcleo de Teatro da Escola Básica de Vialonga.

Ontem foi dia de “Aprendizes do Fingir”. Uma iniciativa da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira que comemora este ano a sua vigésima segunda edição. Os Núcleos de Teatro das escolas básicas e sencundárias do concelho são convidados, a apresentar o resultado do seu trabalho com os alunos, na melhor sala de espectáculos da cidade: o grande auditório do Atneu.

A minha presença nesta mostra escolar não foi fruto do acaso. A minha filha faz parte do Núcleo de Teatro da Escola Básica Pedro Jacques Magalhães há dois anos e é com muito gosto que me sento na plateia para a ver em palco. Este ano trabalharam um texto muito bonito de Graça Vaz “Um Novo Princípio” e aproveito este espaço para agradecer o trabalho dos professores Abílio Mocho e Paulo Cairrão.

Este Post tem, no entanto, um propósito maior. Apesar de ter ido ao Atneu para ver a actuação da minha filha, assisti à actuaçao das restantes escolas.E não posso deixar de escrever sobre a peça apresentada pelo Núcleo de Teatro da Escola Básica de Vialonga.

Intitulada “Sol de Abril” esta peça, da responsabilidade da professora Ângela Ferreira, juntamente com os professores Sandra Filipe e Paulo Ferreira, colocou um auditório, com capacidade para 800 pessoas, a aplaudir de pé e de forma emotiva, os 9 actores do elenco: Alfredo Cunha, Ana Carolina Monteiro, Daniel Maciel, Inês Almeida, Inês Santos, Miguel Silveira, Patrícia Salgueiro, Tomás Carvela e Sara Tavares.

O título denuncia o tema: o 25 de Abril. Mas não denuncia o conteúdo. A peça constitui, na minha opinião, um documento histórico notável, sobre um Portugal recente. O compasso é dado pelas músicas da época, explorando a sua letra como veículo de mensagem. A encenação e cenografia transportam-nos numa sequência de actos que nos humedem os olhos, eriçam os pêlos e nos fazem cantar músicas que fazem parte de nós, do que somos enquanto portugueses… Os cravos nem são a figura central. Porque as alusões ao 25 de Abril repetem-se todos os anos. Nesta peça pretendeu-se dar a conhecer a realidade de Portugal no tempo da ditadura. A censura. As colónias. A guerra. A PIDE. Os ardinas. A emigração. As mulheres. Os homens. A Pobreza. Um trabalho notável de pesquisa e encenação. E mesmo que tenham passados muitos anos existiu, na plateia, um sentimento de revivalismo perante a actualidade do país.

Senti-me uma privilegiada por ter assistido à peça, que considero de um nível profissional. E achei que deveria escrever aqui no blog. Primeiro porque gostaria de reconhecer o mérito destes professores e alunos actores. Bem como o investimento da Direcção da escola – que acredito ter no Núcleo de Teatro uma prioridade para estimular o gosto pelo Teatro, utilizando-o de forma pedagógica, formativa e interventiva no seio da sua comunidade educativa.

Considero que é uma pena que esta peça não tenha maior visibilidade junto da comunidade. As comemorações do dia de Portugal estão para breve… Acho que esta peça deveria ter lugar nas comemorações do Concelho. Porque esta peça nos fala de cada um de nós… mesmo que nos esqueçamos frequentemente do Portugal dos nossos pais e avós!

Deixo-vos os últimos 2 min de peça – a afirmação da liberdade com Grândola vila morena.

E aplaudo de pé. Ainda!

Às simulações de incêndio e sismo… Junta-se o terrorismo.

Durante a semana que passou, a filha de uma amiga teve um dia diferente na escola. Tem 6 anos. Está na primeira classe. “Mamã hoje aprendemos o que fazer se um terrorista entrar na nossa sala.” A mãe perguntou-lhe “o que é um terrorista?”… “É alguém que vem à escola para nos matar”… “O professor disse que devemos ir para debaixo das mesas, estar calados – estivemos 30 min sem mexer nem falar – e depois ensinou-nos a comunicar por gestos e quando ele deu o sinal começamos a correr para um lugar fora da escola”.

Em Portugal a geração da minha filha cresceu com a palavra “crise”. O medo do desemprego. Os pais que estão a viver noutros países… Mas em Portugal a palavra terrorismo continua a ser – e felizmente – um eco de lugares distantes. Não é o caso em França… 

A esquizofrenia dos testes 

Começo por dizer que fui professora. E fui por inteiro. Durante 10 anos.

Reflecti muito sobre estratégias de ensino, sobre métodos de avaliação de conhecimentos, sobre diversidade de inteligências. Formatei alunos para exames nacionais. Maturei pensamentos científicos para aqueles que escolheram como opção as “biocoisas”, como eu, por graça, lhes chamava.

Mais do que ter bons alunos, o meu objectivo sempre foi ter alunos motivados. Deixei muito cedo a estratégia do medo. Dos testes surpresa ou das avaliações de tudo e de nada. Fiz questão de lhes organizar o estudo, de lhes revelar as fontes, de estruturar um caderno diário. Procurei ser justa e nunca tive receio de ser exposta à crítica.

Guardo saudades. E amigos. E muito orgulho nas conquistas dos meus alunos, hoje adultos.

Hoje regresso a Nice triste. E um tanto revoltada. A professora de ciências da minha filha decidiu hoje que quinta-feira terão teste global (relembro 5º ano) e como está atrasada no programa decidiu que não tem tempo para fazer revisões??!?!?! Ei!!! 5º ano?!?! Custa-me ver o estado de ansiedade da minha filha. Até porque ela sabe os conteúdos. O problema é o medo de falhar. Habituada a ter sempre mais de 90% queria manter o 5. E tem medo de não se lembrar de todos os nomes … Juntam-se os testes de história e ainda os globais de matemática e português. E os trabalhos… E tudo me soa a uma tamanha esquizofrenia de testes e instrumentos de avaliação que contribui, em muito, para que os miúdos desmotivem para o essencial: a escola e o conhecimento.

-“mamã tudo o que eu mais queria era que amanhã fosse dia 12 e a escola tivesse terminado!”

É triste ouvir isto da minha filha. E ela faz parte dos alunos bons.

É a escola que temos! E pelos vistos, a que queremos…

Bom dia – hoje em modo…

… voar para Lisboa.

E a ouvir Regina Specktor :)!

A minha filha está a terminar o 5º ano. No início do ano perguntou-me se poderia ir para o Clube de Teatro da escola. Achei uma ideia gira. No final do primeiro dia disse-me que tinha gostado muito e ao longo do ano têm trabalhado um texto, construído o cenário, recriado os personagens, os tempos,… Motivei-a para ser a má da peça. Quem a conhece sabe que esse é o papel que menos tem a ver com ela – sempre hiper responsavel e cumpridora. O teatro torna-se um desafio se nos libertarmos da vida ordinária.

No sabado terá a sua primeira actuação numa grande sala (Atneu Vila Franca de Xira). Ela está um bocadinho nervosa e disse-me que a sala tem 547 lugares – acho divertido como estas pequenas coisas podem fazer diferença e motivar os miúdos.

Apesar de todas as dificuldades que a escola pública enfrenta. E apesar das humilhações que os professores têm sofrido. Continuam a haver projectos giros e que fazem dos nossos filhos pessoas melhores.

O meu muito obrigada à escola (EB Pedro Jacques Magalhães de Alverca) e aos professores que dinamizam o grupo de teatro da escola.

Depois conto como foi.

A mochila da minha filha tem 20% do seu peso: 7,5Kg! Tem mesmo de ser assim?

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Frequentei a escola pública desde a instrução primária até à obtenção do grau de doutor. Considero que a educação é o alicerce maior do projecto de um País. Penso que nos cabe, a nós, cidadãos, alertar para o que não deveria, NUNCA, acontecer.

A minha filha, nascida em 2004, ingressou, este ano, numa escola pública do 2º e 3º ciclos do ensino básico. Hoje, depois de organizar a mochila para o dia de amanhã, não pude deixar de verificar o seu peso: 7,5 Kg! Representa 20,3% do seu peso, já que tem 37 Kg e 1´43m. O problema torna-se ainda mais grave quando a escola não dispõe de cacifos para todos os alunos – segundo fui informada existirá um sorteio de 10 cacifos por turma -, mesmo que alguns pais (eu inclusivé) se tenham disponibilizado para oferecer módulos de cacifos à escola. Significa, por isso, que no período de tempo em que não deixa a mochila na sala de aula – horas de almoço e alguns intervalos, por exemplo, a tem às costas. Imagino que os 30 minutos que passa na fila do refeitório, se torne um verdadeiro martírio. Imaginem-se a vós, com 20% do vosso peso às costas, numa fila, durante igual período de tempo!

Será que não é possível fazer nada para mudar isto?

Algumas sugestões:

1. Gestão dos livros. Será que um livro por mesa (partilha entre os dois colegas) não é suficiente? E já agora, percamos o hábito de escrever nos manuais escolares – o caderno diário serve para isso. [é uma vergonha o Estado não ter um banco de reutilização de manuais – Ah, os lobbies das editoras! – em França os pais pagam uma caução de 80€ no início do ano, que recuperam quando, no final do ano, entregam os manuais à escola.]

2. Os professores precisam mesmo de usar o manual escolar e o livro de exercícios em todas as aulas? Com melhor organização poderiam advertir os alunos quando necessitam de manual ou caderno de exercícios.

3. A organização dos materiais de estudo é muito importante. Mas é, também, crucial relembrar os professores de que, se além do caderno diário, manual escolar, livro de exercícios,… é importante ter o portefólio para colocar as fotócopias… são mais umas centenas de gramas na mochila.

4. A existência, obrigatória, de um cacifo por aluno. Tal como se exige que tenha uma cadeira e uma mesa. Porque os tempos mudam e, honestamente, prefiro pagar 50 ou 100€ para contribuir para um cacifo do que, mais tarde, corrigir problemas de coluna vertebral da minha filha. Alguns de vós dirão “No meu tempo não existiam cacifos!” Pois não, mas também não existiam manuais de educação visual, educação física, educação musical, livros de leitura, livros de exercícios…

Mais. Mochilas com rodas não são solução. O acesso às salas obriga a subir escadas, pelo que o transporte tem de ser às costas.

Acredito que todos – pais, professores e políticos – desejamos o melhor para as nossas crianças.

Façamos, então, por isso!