New year starts. Estou na Côte. Começo o dia sobre rodas. Como no ano passado. Hoje o dia está cinzento. O mar está sereno e os olhos viram-se para as montanhas. Espera-se neve nos Alpes este fim de semana. A montanha é um vício. Tal como o é o mar e a brisa que dele parte. Como se nos dissesse Bom dia…
Delphine de Vigan é a minha mais recente descoberta em matéria de autores franceses. Começo o ano com as suas palavras. É comum dizer-se que tudo o que queremos expressar já foi escrito por alguém, de uma forma mais bonita, mais profunda… Delphine, em “les heures souterraines” incomoda, perturba… Coloca em palavras a realidade deste ritmo frenético em que vivemos. Adjectiva vidas tão cheias de coisa nenhuma.
Ontem perguntaram-me por que não arrisco escrever um livro. “Porque a cada vez que leio um livro sinto que nunca conseguirei escrever assim”! Na verdade tenho medo. Tenho medo de não ser capaz. Tenho medo de ser capaz e me tornar prisioneira dos personagens. E depois órfã. Tenho medo de lhes dar vida, porque há em cada um deles uma parte de mim, do que vi, do que li, do que vivi…
Ter a vida que escolhemos e não aquela que nos sobra torna-nos, também, vítimas de um excesso de controle. Sobre nós próprios. Onde o desafio é sermos capazes de o perder. Esse é, porventura, o meu maior desafio.
Bom ano 2016.
Obrigada por estarem desse lado.