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Grécia: serão tempos de mudança?

Hoje o meu facebook diz-me que se vivem tempos de esperança na Grécia. E pelo tom parece que muitos dos meus amigos facebookianos gostariam que a escolha nas urnas se repetisse por terras lusas.

Mesmo triste, decepcionada e, é verdade, sem esperança de regressar a Portugal – sobretudo considerando as últimas notícias sobre as bolsas de doutoramento e pós-doutoramento em Portugal – tenho dificuldade em imaginar um Portugal liderado pelo partido comunista ou bloco de esquerda (não sei se este partido ainda existe).

Durante muito tempo ouvi comparar Portugal à Grécia. Até ter ido à Grécia e ter constatado que difícil é encontrar semelhanças. Fala-se em Europa do norte e Europa do Sul. Eu falaria em Europa. Ponto. Somos o continente das regras, das leis, dos direitos… do Homem, das crianças, das mulheres, dos homossexuais,… somos o continente das inspecções, das políticas sociais,… dizemo-nos proprietários da cultura, do savoir faire… mas somos tão hipócritas.

Compactuamos, Incentivamos Patrocinamos a exploração infantil, a Poluição e destruição de recursos naturais, esquecemos os direitos dos trabalhadores,… mas não faz mal porque isso acontece lá para os lados onde as pessoas têm os olhos em bico. E depois queixamo-nos que não existe emprego na Europa. Nem esperança… E pelos vistos nem Paz.

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Fico feliz pela Grécia. E abraço todos os amigos gregos que conheci aqui. Mas não acredito nas promessas feitas. Acho que mais do que uma divergência Norte – Sul – que me parece ser a desculpa de uma  comissão europeia vazia em ideias e desorientada no seu sonho projecto -, a complicação será entre o ocidente e o oriente. Ja repararam na desvalorização do euro face ao yuan?

 

Por esta ordem. Lisboa, Paris e Atenas. Em sete dias. Pouco mais.

Por esta ordem. Lisboa, Paris e Atenas. Em sete dias. Pouco mais. Um café sem pressa na esplanada Piazza del Mar, à beira Tejo. Um passeio de bicicleta de Denfert  ao Lac Daumesnil, numa Paris de Monet. E depois… Atenas!

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Aeroporto. Metro. Syntagma. Foi nesta estação de metro que ascendi à superficie  de Atenas. Em frente ao Parlamento. Na Praça onde ao longo dos últimos anos se têm multiplicado as manifestações contra as medidas de austeridade. Olhei em redor. Os taxis amarelos como em Nova Iorque. O McDonald´s na esquina, como em qualquer capital europeia. Um vendedor de pão, como em Marrocos. Trânsito. Motards sem capacete. Polícias com tempo. Com todo o tempo, porque o exercício da autoridade parece ser uma coisa diferente, daquela que conheço a ocidente. Sigo o instinto. Que me leva à rua das lojas, sem trânsito. Sinto-me perplexa. Com os caratzes. Os graffitis. A sujidade. A falta de dignidade de uma capital que parece ter baixado os braços. As sombras do que um dia foi comércio multiplicam-se. Ao lado dos que ainda tentam abrir as portas. As mensagens anti-europa estão por todo o lado. Juntam-se aos desabafos de um povo que se considera vítima. Que apaga todos os sinais de trânsito com tags, transformando Atenas num imenso labirinto sem rei nem ordem. “É o berço da Europa. É o berço da Europa.” digo entre-dentes enquanto me pasmo por tamanha desordem. Sinto-me no Norte de África. Muito mais do que na Europa. As ruas estreitas. As casas brancas. Inacabadas. Abandonadas. Decadentes. Que se amontoam. Procuro a Acrópole como procuro o Tejo em Lisboa ou a Torre Eiffel em Paris. Impossível. As ruas são labirintos.

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Comida. A cozinha grega tem o mesmo sabor da portuguesa. Disso já sabia. Bem como da simpatia dos gregos. É diferente da nossa. Não são servis. Pelo contrário. Transportam com eles a convicção de que são o berço da Europa e a origem de grande parte do que sabemos hoje, nos diferentes domínios do conhecimento. O melhor azeite. O melhor queijo. As melhores azeitonas. A melhor carne. O melhor peixe. E com sorrisos se ganham sorrisos. Gostam que lhes perguntemos da sua história. Dos tempos áureos. Dos deuses. Dos templos. A conversa muda quando lhes pergunto por que motivo existem graffitis por todo o lado. Esse é um assunto deles!

Acrópole. Os turistas são consideravelmente menos dos que encontrei Paris ou em Lisboa. Sinto o peso da História. Existem trabalhos a decorrer. Penso na Sagrada Família de Barcelona. “Aqui também devem estar sempre em trabalhos”, penso. Aqui e ali ouço as explicações dos grupos organizados. Questiono como a grandiosidade das antigas civilizações pode contrastar com aqueles que na modernidade as ocupam. Penso no Egipto. No quanto tenho adiado a minha viagem ao Egipto.

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Saio de Atenas. Ao encontro do mar. Do azul turquesa. O horizonte rouba-me os pensamentos. Porque a vertigem das águas é mais forte. E é quente. E é transparente. Não há barcos. Nem outras pessoas. Nem casas. Nem ruínas. Nem graffitis. Há o que de mais bonito conheci na Grécia. O mar e a sua costa.

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O trabalho. Agora poderia escrever sobre ciência. Mas não seria a mesma coisa. 🙂

Até breve!