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Voltar à aldeia… ou ao que dela resta!

Voltar à aldeia já não é a mesma coisa!

Este verão regressei à aldeia. À aldeia do meu pai – Proença-à-Velha – no distrito de Castelo Branco. Com tristeza senti que o Portugal interior se extinguiu. Um Portugal de saberes e tradições que morreu com as suas gentes. Não encontrei as velhinhas vestidas de negro a regressar da missa. Nem os velhos, sentados nos bancos de pedra no largo, a ver quem passa. Morreram. E depois deles existiram aqueles que partiram. Como os meus pais. E os meus tios. E os meus primos.

Vi casas fechadas. Casas à venda. Casas em ruína. Vi outros tantos como eu que voltam à aldeia. Que provavelmente se questionam como eu. Sobre o sentido de voltar a um lugar que já não existe. São as pessoas que dão alma aos lugares que habitam. Uma aldeia sem as suas gentes torna-se um espaço encerrado no mutismo de ruas vazias. Nem mesmo as moscas ficaram.

Este foi o meu olhar… sobre um Portugal que agora vive apenas na minha memória.

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Refugiados: A Europa vai ficar mais jovem… É o que importa!

Há uma semana que não vejo televisão. Tenho recebido notícias do mundo através de links vários que são partilhados no facebook ou posts nos blogs que sigo. Os refugiados são o tema da actualidade. As fronteiras da Europa. As medidas antipopulares da Hungria. O exemplo da Austria. As revisões estratégicas da Alemanha. As discussões em França. Os movimentos pró e contra em Portugal.

Os extremismos posicionam-se. De um lado surgem os cépticos. Aqueles que dizem tratar-se da islamização da Europa. Paga pela Europa. O cavalo de Tróia. Surgem as bandeiras do Estado Islâmico entre os refugiados. Ou espalha-se o boato. Deveria escrever no plural… Do outro lado surgem os grandes defensores dos direitos humanos. Para quem não existem fronteiras… elegendo os valores da dignidade, da paz e da humanidade.

Acontece que as fronteiras existem, também, por questões de segurança. Os limites dos territórios foram conquistados através de guerras. Entre conquistadores e defensores. Os heróis de outros tempos… A padeira de Aljubarrota matou sete castelhanos com a sua pá, reza a lenda. Heroínas que nos correm no sangue (e que em parte justificam a nossa animosidade para com os vizinhos espanhois).

Já quase tudo foi escrito. Interessei-me pelo que não li. É, provavelmente, na História que encontramos as respostas para o desconhecido que se adivinha no futuro próximo. Afinal quais foram os grandes movimentos migratórios em massa na História? Para onde se deslocaram os povos? Motivados pelo quê? Quais foram as consequências para as regiões de destino? Como ficaram as regiões desertificadas pelo êxodo?

O povoamento do Planeta tem origem em movimentos migratórios a partir de África. Estávamos naquela que é considerada a pré-história. Há mais ou menos um milhão de anos. O Ártico foi a última região a ser povoada. Há pouco mais de 1000 anos. Os povos mantiveram-se nómadas por muito tempo. Procurando alimento e segurança – que é, ainda hoje, o que motiva as grandes migrações em massa. Até que se tornaram capazes de alterar o território. E este passou a mudar de acordo com as suas necessidades. Ao alimento e segurança adicionaram-se outras ânsias…

Os êxodos bíblicos e sucessivos impérios têm na sua essência migrações em massa inerentes. Mesmo que nos pareça longínquo o tempo em que Cristãos eram deitados aos leões no Coliseu de Roma, a verdade é que foi há pouco mais de 1500 anos.

Durante os sec XIX/XX (1850 – 1914) as migrações em massa acontecem das zonas rurais para as cidades. E da Europa para as Américas. A revolução industrial mudou a distribuição das populações. Em territórios limitados por fronteiras. Acentuou diferenças entre os povos. A América tinha portas abertas. Imigrantes provenientes da Europa contribuiram em 40% para o crescimento da população dos Estados Unidos no final do sec. XIX. O que não deixa de ser interessante se considerarmos que Estados Unidos e Europa têm áreas de superfície equivalentes… As Américas ficaram jovens. A Europa envelheceu. Na mesma altura foram muitos os movimentos na Ásia. ~14 milhões de Hindus, Sikhs and Muçulmanos migraram para diferentes regiões.

Na História recente. Aquela a que ainda podemos sentir o cheiro. Nos campos de concentração. Aconteceram movimentos migratórios forçados. Novas redistribuições da população surgiram. A História mostra que os países que receberam estes “refugiados” – se não da guerra, da vida – ganharam em crescimento económico. E mais uma vez. Os outros ficaram mais jovens. Nós, a Europa, envelhecemos!

É curioso ter o berço da humanidade naquele que é o continente com pessoas mais jovens: África. E a Europa. Aquele que tem a população mais envelhecida. Cheia de medos e ao mesmo tempo com tantas certezas. De questões filosóficas sobre demografia e insustentabilidade de futuro. De crise. De países irmãos pouco irmãos. De credores e devedores. De ricos e de pobres. De políticas de natalidade. De gente passiva, desistente e permissiva. De políticos autocráticos.

Este êxodo da África do Norte e Mesopotânia não é um tema (apenas) da actualidade. Há muitos anos que a Grécia faz um esforço hercúleo para vigiar as fronteiras. Há um Pós-11 de Setembro. As guerras do Afeganistão e Iraque. A guerra na Síria.  A radicalização dos grupos extremistas camuflados no Curão. O Estado Islâmico e a sua ânsia de Poderes e Território. Somos todos responsáveis. Todos. Muitos pensam que eles devem ficar na terra deles. Mas curiosamente a Indústria Bélica constitui 2,7% do PIB mundial. França, Alemanha e Inglaterra ocupam o pódio no que à Europa diz respeito. E na maior parte das vezes os países do dito ocidente civilizado mantêm boas relações com interesses petrolíferos. Por vezes faz falta o Charlie hebdo de outros tempos!

A situação tomou proporções bíblicas. As pessoas estão à porta da Europa. E a Europa mobiliza os militares. É preciso tempo. É preciso agir com responsabilidade. É preciso cada um dos países nutrir todos os seus pobres e dar casa a todos os seus sem-abrigo. Eles podem esperar! E eles esperam. Porque não têm onde voltar. São nomadas! Ainda não perceberam? Aqueles que partem sem nada, partem para não voltar. Porque a terra de onde partem já não é a sua! São muçulmanos, cristãos, ateus… não sei! Apenas sei (ou acredito) que ninguém deixa tudo para viver de assistencialismo num país que o julgará sempre como intruso. Acreditem que ser expatriado significa provar todos os dias que somos iguais – mesmo que na maior parte das vezes tenhamos de ser melhores!

Campo de refugiados da Síria na Jordânia (2013) (Fonte: http://tempsreel.nouvelobs.com/)

A Europa vai ficar mais jovem. É o que importa!

Napoleão não foi capaz de conquistar Portugal.

Hoje é um dia especial aqui por terras napoleónicas. Na verdade faz 200 anos que o Imperador Napoleão desembarcou em Golfe Juan (a minha pequena vila à beira-mar plantada) para reconquistar a França.

Os franceses têm um orgulho incomensurável no seu Imperador. Revêem-se na sua audácia e conquista de território. Fiquei curiosa ao ver um mapa do Império de França dessa época. Ora vejam:

Achei interessante o facto de Napoleão não ter conseguido conquistar Portugal. Devo ter aprendido isto em algum momento na escola. Mas a verdade é que não me recordo de nada e por isso decidi investigar um bocadinho o que se terá passado.

Portugal era uma das prioridades para Napoleão. Para o Imperador a situação geográfica de Portugal era crucial para controlar os mercados do mediterrâneo e as rotas atlânticas. Por outro lado Portugal tinha uma forte relação comercial com a Inglaterra – rival de França e que Napoleão queria, também, dominar. Napoleão uniu-se, por isso, aos espanhóis e com eles elaboraram um plano para invadir Portugal.

É curioso ver a lista de reinvidicações que Napoleão faz ao reinado de Portugal em 1807:

– Participação de Portugal ao “blocus continental” que a França decretou contra a Inglaterra.

– Interdição da navegação dos britânicos no seu território.

– Que Portugal declare guerra aos ingleses.

– Que Portugal confisque os bens dos ingleses em território português.

– Tornar prisioneiros todos os ingleses no território português.

É giro, nos tempos de hoje, pensar que França estava a usar Portugal para fazer frente ao seu mais temido inimigo :). A História não se ficou por aqui. Napoleão não esperou a resposta dos portugueses. Na verdade assinou um tratado com Espanha para, juntamente com estes, invadir Portugal a fim de o dividir em três reinos: as invasões francesas. Napoleão mobilizou 300 000 soldados.

A monarquia portuguesa, juntamente com outros nobres do país (15 000 pessoas) fugiram para o Brasil e instituiram nessa colónia a capital do Império Português. Napoleão, incapaz de tornar prisioneiro o rei português não conseguiu dominar Portugal e desse modo conquistar toda a Península Ibérica. Nos escritos Napoleão assume esta como a sua grande falha estratégica na conquista da Europa.