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“Tamos juntos até hoje! Bendito PC né!!”

Há uns dias escrevi sobre Ghosting (aqui). Recebi alguns emails com outros testemunhos. Deixaram-me uma sensação de desconfiança (ou talvez descrença) nas pessoas – eu que por norma confio e acho sempre que quem vem, vem por bem!

Como o agoradigoeu é um blog de estórias. Lembrei-me de uma estória bonita. Daquelas contra-corrente.

Há 2 anos um leitor do blog escreveu-me um email para me convidar para beber um café. Por coincidência estávamos ambos na mesma cidade (esta mania que eu tenho de escrever sempre para onde vou!!). Achei giro o convite. Levei a minha mãe e Beatriz comigo! Ele levou a esposa e o filho. E passámos um bom momento a beber chá e a comer torradas, acompanhados por conversas sobre as nossas vidas.

Ela brasileira, ele português… a minha mãe (que de cusca não tem nada) perguntou como se tinham conhecido. Ela, uma mulher alta e divertida, contou-nos a estória.

(Vou tentar escrever no português doce do Brasil.)

“- Olha, eu tava lá no Brasil e queria encontrar um marido né. Homem brasileiro eu não queria não. Queria um homem estrangeiro, um português por falar a mesma língua que eu! Pois é. O problema é que português que vai no Brasil ou vai em família ou vai procurar prostituta. E eu queria uma relação séria. Então, eu pensei, pensei e decidi encontrar um marido na internet. Fui na loja e disse pró cara “Olha eu quero um PC daqueles que tem camera, você sabe? Daqueles que a gente pode tar no chat, sabe?”. Fiz o perfil num site e foi assim que comecei a falar com essa criatura. Ele tava se divorciando – cara, divorcio complicado esse! A gente falou, falou,… e ele foi no Brasil. Olha… se passou tão bem as duas semanas lá, que passado um mês eu já tava chegando a Lisboa. Tamos juntos até hoje! Bendito PC né!!”

A minha mãe nem estava a acreditar no que estava a ouvir. Eu de ver a cara dela só me apetecia rir à gargalhada. Ele revivia nas suas palavras a sua história – assim com ar apaixonado (uma delícia). E tudo o que poderia parecer uma impossibilidade era na verdade uma família gira e sem preconceitos.

(Claro que tive direito ao desabafo da minha mãe: “estás a ver esta, comprou um PC – bendito PC né – e arranjou um marido inteligente e bem apessoado! Tu nunca mais arranjas um namorado!)

ahahahahah a minha mãe e o seu desgosto por eu não ter um namorado!

Eu continuo a acreditar. Que quem vem. Vem por bem.

E era isto!

(J. se leres este post um beijinho para a família e a ver se gerimos a agenda para um cafézito na mesma altura).

E se ele desaparecer? Pois… significa que foste ghosted!

E se ele desaparecer? Bloquear o whatsapp. Ficar invísivel no facebook. Vedar o acesso à conta telefónica. Fizer unmatch na aplicação online. Se ele desaparecer significa que tu foste “ghosted” e aquele que pensaste ser o teu “qualquer-designação-que-lhe-queiras-atribuir” passou a ser um ghost.

Quando utilizei a aplicação Tinder (ler aqui ou aqui), comentei com algumas pessoas próximas que o mecanismo de selecção me fazia sentir uma péssima pessoa. A ideia de eliminar pessoas em menos de um segundo, fazendo deslizar a sua foto para a esquerda, torna aquela pessoa menos humana e constrange-me a tendência (e rapidez) que eu tive para eliminar perfis. Como se fosse um objecto  que deitamos ao lixo. Esta é provavelmente a motivação justificação origem de uma tendência, que ao que parece não é recente (eu desconhecia, mas normalmente sou a última a saber destas modas), nas relações (ditas) amorosas: o Ghosting.

Aqui há uns dias uma amiga enviou-me uma mensagem (relativamente a uma pessoa que conheceu online): “- Mandou-me uma mensagem de manhã toda doce para a seguir me bloquear o whatsapp. Pelo menos é o que me parece. Eu já não consigo ver a foto dele. Bloqueou-me.”

Eu, na minha ignorância respondi-lhe: “- Não percebo. Será que não é simplesmente porque não tem rede ou assim… Talvez estejas a fazer um filme!”

Ele desapareceu. Mesmo. Assim como apareceu. Ele que para lhe roubar um beijo fez 80 Km. Ele que jurou amor. Ele que fez planos. Ele que a fez acreditar estar a viver um momento único. Um match perfeito. Desapareceu. Assim… Como apareceu. E ela sentiu-se sem chão. Ela sentiu-se humilhada. Ela sentiu-se usada. E Pior. Sem possibilidade de obter uma explicação. Um Fim. Porque todos os inícios merecem um fim.

Tudo me pareceu surreal. E esta situação fez-me relembrar uma conversa com um rapaz no Tinder. Perguntou-me: “tu és daquelas que desaparece?” E eu achei estranho. “Desapareço?”. Na altura eu estava mais interessada em compreender as motivações para utilizar estas aplicações – não dei grande importância ao “despareces” – (até porque nem aparecer ía), mas depois desta situação com a minha amiga decidi pesquisar. Este comportamento tem o nome de Ghosting e vale mesmo a pena ler este artigo aqui.

Esta situação aconteceu poucos dias depois de eu ter publicado o post “Codigos no Tinder”. Numa noite, enquanto tentávamos compreender o modus operandis do ghost, tivemos uma ideia. Um tipo que tem este comportamento, vai ter sempre a mesma estratégia de assédio e o crivo não deve ser muito apertado! Ela fez um novo perfil, desta vez com uma fotografia dos pés calçados numas sandálias de salto alto (isto lembra-vos alguma coisa?), com uma frase enigmática do género “Stay at home if you don´t want to take the risk”. Com este novo perfil conseguiu ter acesso ao perfil do agora ghost. Fizeram match. (How obvious!!). E minutos depois já estava a receber mensagens dele. E torna-se tão vulgar e ridículo e desonesto perceber que as pessoas podem ser tão básicas que nem sequer percebem que caem na sua própria armadilha. E ele. Sem saber. Conta a mesma lenga-lenga àquela que pensa ser a sua próxima ghosted. Ora leiam o nível do discurso (deve ter ficheiro word para fazer copy/paste):

ACheekyGeek Being picky is where I faulter and this is 30 years of choosing the wrong women which helped me shape what i want or not lol

Classy, takes pride in her appearance (nice hair nice nail etc), not afraid to wear skirts and dresses as well as jeans lol, I guess girly girl, funny, intelligent, not scared of spontaneity, knows what she wants, stable, loyal, chemical and emotional attraction has to be there, physical and sexual attraction also, no relationship can last on one or the other alone, now the honest bit… Must enjoy sex! Slow sex, passionate sex, hard sex, rough sex, all sorts, can’t handle women that use it as a tool against men these days, not into playing games physically or emotionally.

A estória ainda não tem um fim. Afinal ele tem gasto o seu tempo a falar com o que pensa ser uma enfermeira – ocupadíssima e com turnos e, sobretudo, com medo de ser reconhecida pelos doentes. Ele está, portanto, a falar com uns sapatos de salto agulha. Não leva a lado nenhum! Mas pelo menos a minha amiga fica com a certeza de que estes merdas – que não tem outro nome – existem e não passam de uns badamecos sem carácter.

A minha amiga vive em Nova Iorque. Estes fenómenos são mais frequentes em vidas cosmopolítas do que em pequenas cidades. Mas é possível que se torne mais comum do que o desejável. E não me venham com merdas. Que afinal era uma cena de internet e que por isso menos pessoal. Que desaparecer evita o confronto, decepções e justificações. Que os silêncios por si só significam a decisão do Fim. E a melhor. Que ao desaparecer não há um Fim efectivo. Há sempre a possibilidade de reaparecer…

Por isso meninas. Alerta!

Códigos no Tinder… e as nossas incoerências.

Tinder. Há duas semanas que fiz download desta aplicação no meu telefone. No início quase desisti. A ideia de criar uma conta Tinder associada à minha conta de facebook é tudo o que eu NÃO queria. Ok. Vamos lá contornar a questão. Conta de facebook fictícia. E foto? Que foto se pode colocar numa aplicação que se baseia em imagem, não querendo mostrar o rosto? Optei por colocar duas fotos da outra extremidade do meu corpo. Os pés. Os pés em sapatos. Os pés em patins. E é tudo.

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A aplicação é intituitiva. Corrijo. É demasido intuitiva. É quase um jogo. Somos confrontados com a fotografia de alguém e num espaço de milésimos de segundo decidimos eliminar ou, se hesitarmos, podemos saber um pouco mais sobre a pessoa. Outras fotos e alguns caracteres. Não deixa de ser um bom exercício sobre as nossas preferências. Porque é que há perfis que rejeitamos de imediato e outros sobre os quais queremos saber um pouco mais? A parte curiosa do processo é que não tendo eu qualquer propósito de conhecer pessoas através da aplicação dei comigo a aplicar critérios de selecção. Talvez porque o acasalamento é um mecanismo biológico inato aos seres vivantes.

No meu caso a regra é eliminar. Tudo o que seja “sou muita bom” (fotos de óculos escuros à beira da piscina ou na esplanada ou no barco ou coisas do género), “sou muita divertido” (fotos em festas com muito álcool e afins), “sou muita desportivo” (fotos a fazer ski, paraquedismo, kytesurf, escalada,… eacreditem há quem tenha fotos a fazer isto tudo no mesmo perfil), “Sou muita intelectual” (com frases clichet e fotos a preto e branco com ângulos desfocados) e “sou muita bem sucedido” (o descapotável, o iate e o fato com a gravata no cocktail), vai direitinho para a esquerda, leia-se, “sai-me da frente dos olhos que já não te posso nem ver”! Ah e depois há aqueles que conheço na vida real. E isso posso dizer-vos: é assustador estranho! O que é que resta? Não sobra muito! Neste jogo percebi que prefiro perfis que não sejam óbvios. Perfis “se quiseres saber mais estou aqui”.

Há uma diferença muito clara entre os perfis da Côte d´Azur e os perfis de Lisboa. Os primeiros são mais sofisticados. As fotografias são hiper produzidas, são mais desportivos (entre mar e montanha) e nota-se uma tendência para o snobismo – carros, barcos e relógios. Em Lisboa há muitos utilizadores estrangeiros, mas os perfis de portugueses são, de longe, menos rebuscados. Mesmo que continuem a existir os mesmos grupos que descrevi!

Seleccionei poucos perfis e, curiosamente, os perfis que seleccionei fizeram match comigo. Coincidência ou não… parece que fotos de sapatos resulta – por isso meninas toca a excluir a selfie tirada às 14h, virada para o vosso decote, e a fazer biquinho de pato com os lábios – Ainda estou para saber de onde saiu esta moda!

Durante estas duas semanas tentei perceber a dinâmica da aplicação e percebi que existem alguns códigos entre os utilizadores.

1. Têm um perfil no Tinder mas ninguém anda à procura de nada.

2. Toda a gente teve um período na vida “go with the flow” mas de momento não é o caso.

3. Ninguém é casad@ ou tem namorad@.

4. Ninguém é fácil.

5. Ninguém anda ao engate.

6. Ninguém conhece ninguém no Tinder.

7. Ninguém fala sobre sexo. Ou fala sem falar de sexo. E se eventualmente a conversa for mesmo sobre sexo diz que não quer sexo, embora queira.

8. Ninguém tem expectativas. Mas tem.

9. Ninguém conversa com mais do que uma pessoa ao mesmo tempo.

10. Ninguém vai verificar se @ outr@ com quem conversou (ou eventualmente esteve) voltou a estar online na aplicação.

Haja incoerência. Não fossemos nós pessoas. E se fossemos uma pedra?

 

 

Arranjinhos de internet: “as tuas feromonas estão muito baixas”

Place Rosseti. Nice. Sábado à noite. Restaurante cheio. Corrijo. Esplanada do restaurante cheia.

O empregado – casado – (saliento esta parte porque o moço insitiu olhar para mim com o mesmo ar que eu olhei para a aliança dele com 1 cm de espessura) conduziu-nos a uma mesa pertinho de um casal.

Sentámo-nos.

Foi impossível não ouvir a conversa do lado.

Ele: – Recebes muitas mensagens? Assim a dizer que és uma tentação e que querem ter sexo (não foi bem esta a expressão usada) contigo? Eu faço-te estas perguntas porque pronto,… depois que nós começámos a falar eu não falei com mais ninguém.

A minha amiga, que tem o mesmo defeito de profissão do que eu – leia-se observa tudo – olhou para mim e um olhar foi suficiente para nos começarmos a rir:  internet made!

A conversa continuou.

Ela: Não. Às vezes recebo uma ou outra mensagem. Mas não é nada de importante.

Ele aparentava ter uns 45 anos. Um personagem estranho. A começar pelo colar de conchas apertado ao pescoço – horrível , a camisa cor-de-rosa género Springfield, as calças caqui e os sapatos da missa de domingo – Ah, e sem esquecer o gel no cabelo grisalho e os óculos versão demodé mas sem ser vintage – só falta de gosto, mesmo!

Ela. Talvez tivesse a mesma idade. Unhas das mãos e dos pés de gel (ou gelinho ou porcelana, desculpem-me mas não sei a diferença). A pele hiper muito reluzente – (tenho a certeza que tinha passado o dia na esteticista a tirar todos os pelinhos – pormenores femininos, adiante). Um vestido curto, mas sem ser vulgar. Mas que a tornava ainda mais robusta, diria assim.

Falaram do que gostam e não gostam. Do que procuram e do que querem evitar. Para nós, espectadoras, as conclusões eram simples:

1. Ele estava cheio de vontade de terminar a noite na cama dela.

2. Ela estava a apanhar uma seca monumental, a pensar “que estúpida que fui em ter dado trela a este anormal”.

A conversa entre os dois continua.

Ele: As tuas mãos parecem de uma miúda de 15 anos. É impressionante.

Ela: Obrigada. Olha as tuas feromonas estão muito baixas!

(tive de me controlar para não dar uma gargalhada.)

Ele não percebeu. “Ainda por cima é burro!” deve ter pensado a senhora. Ela a tentar dizer-lhe que as feromonas dele estão tão baixas que ela não sente nenhuma atracção por ele e ele deve ter achado que cheirava bem!

No final do jantar ele pagou a conta e convidou-a para tomar um copo.

Ela: Não. Já é tarde…  (Eu preciso a hora: 23h, sábado à noite, festa da música, hum… que vontadinha de não voltar a ver o tipo!) Além disso tenho de ir apanhar o autocarro. Depois não consigo ir para casa.

Por esta altura eu já estava com pena da senhora. Tanto investimento de beauté para regressar a casa de autocarro – epá ninguém merece! E o tipo nem disse vou levar-te ou coisa do género. O mais provável é não ter carro… Pois!

Quando se levantaram percebi que ele lhe chegava às orelhas. E não tinham nada a ver um com outro. Nem de aspecto, nem de expressão corporal, nem de nada!

Not easy to find THE ONE!