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“On aura toujours Lisbonne”

“On aura toujours Lisbonne” é o título de um livro de fotografias que encomendei esta semana na blurb. Brevemente vou escrever um post sobre este site – de que sou verdadeiramente fãn, bem como de algumas estratégias para ter redução no preço a pagar.

Para resumir o fim-de-semana que passei com o C. em Lisboa, decidi fazer uns rabiscos para colocar no início do livro. Acabámos por emoldurar o desenho a jeito de souvenir.

Partilho convosco…

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Boa semana.

Lisboa romântica. A nossa Lisboa.

Lisboa está diferente. Os prédios renovados. Os milhares de turistas. A proliferação de tuk tuks e ubers e hostels e airbnb´s. Os restaurantes com lista de espera e os espaços vintage com loiça Bordalo Pinheiro. Os terraços que vendem a luz e o rio e os sabores tradicionais (mesmo que provenientes de franchisings). Os miradouros que se enchem de atracções e carteiristas e vendedores de droga (ou louro e farinha).

Como em todas as mudanças há coisas boas e outras menos boas. Um dos grandes desafios da cidade será de manter a sua identidade e a identidade das suas gentes. De que vale ter a Graça ou Alfama ou a Mouraria saturada de airbnb´s e hostels, se os moradores que lhe dão alma foram obrigados a procurar outras moradas? De que vale ter restaurantes que adaptam os seus menus a sabores franceses, se esta é a oportunidade de mostrar aos que visitam Lisboa a riqueza da gastronomia portuguesa? De que vale ter uma Lisboa acessível às carteiras do norte da Europa quando os lisboetas não podem usufruir dos seus monumentos, restaurantes e esplanadas?

Lisboa continua a ser a cidade que melhor conheço. A cidade que se avista das muralhas do Castelo. As paredes de outros tempos da loja Tous do Chiado. A fuga ao Oriente pelo interior da Casa do Alentejo. O nascer do dia nas Portas do Sol. A mousse de chocolate do terraço do Hotel Bairro Alto. As margens do Tejo em bicicleta. O pôr-do-sol no Cais das Naus. A estação do Rossio que se ilumina. A calçada portuguesa que nos ilustra os passos. As fachadas de azulejos e os muros de grafittis. As sardinhas que não gosto mas que fazem os prazers gustativos de quem gosto… Foi assim o meu último fim-de-semana. Lisboa romântica. Nossa Lisboa…

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Como diz a minha querida amiga Teresa. Mais do que o destino, importa com quem o vivemos.

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Bom fim-de-semana.

Há três anos na Côte d´Azur. E tornei-me (n)isto…

Hoje faz três anos que cheguei à Côte d´Azur! Não posso dizer que parece ter sido ontem. Porque senti o tempo passar…

Ser emigrante ou expatriado ou o que lhe quiserem chamar… é uma sensação de não pertencer a parte alguma. Mesmo que inconscientemente nos apropriemos dos espaços, das sensações, dos sabores… há em nós – ou porventura apenas em mim -, o sentimento de não pertença. Tenho pensado muito sobre isto. Sobre onde verdadeiramente me sinto em casa. É verdade que Lisboa é a cidade que habita o meu coração. Por todas as razões. Mas também é verdade que me sinto cada vez mais estrangeira no meu país. Em França sinto falta de falar português e dou comigo, em Portugal, a sentir-me melhor com estrangeiros do que com portugueses. Dou comigo a procurar as palavras para me expressar. E há vezes em que o que quero dizer só pode ser dito em francês. Não bastante. Há vezes em que sinto o mesmo, mas em inglês. Já não gosto assim tanto de pasteis de nata – são demasiado doces, as mesas fartas tiram-me a fome, o excesso de familiariedade deixa-me desconfortável, assim como as conversas de pequenez…

No presente eu sou isto! Não há quem aguente! Por vezes… nem eu!

França tornou-me mais confiante a todos os níveis. Não sei se foi França ou a experiência de ter tido a ousadia de trocar a vida confortável que tinha, por uma outra… bem mais incerta. França é um país que às vezes amo… e outras vezes odeio. É um país que por vezes me faz sentir a mais… e outras me segura e me diz que precisa de mim. É um país que me deixa sonhar porque me segura, não me deixando cair. É um país que me ensinou a falar de lábios quase fechados proferindo palavras que soam a petits bisous. É um país em forma de hexágono como os favos de mel. Às vezes tenho vontade de ficar. Às vezes tenho vontade de partir. E de todas as vezes que sinto vontade de partir, olho este mar em frente e sinto saudades… mesmo antes de partir.

Uma pessoa esgota os diplomas universitários para depois não saber resolver as equações simples da vida!

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E tem sido esta a minha vida. Há três anos de malas feitas. Uma pausa que se transformou numa (quase) eterna vírgula. Onde não estou lá… mas também não estou aqui. Três anos pode ser tanto tempo. Três anos é tanto tempo!

Esta música anima o meu corpo ;)

Tu orientas-te por uma nuvem de alegria…

Aventuras do palato por terras lusas e napoleónicas.

Esta foi uma  semana do palato.

Na terça-feira, por ocasião do meu aniversário, convidei a minha equipa do lab para um pic nic verdadeiramente português (acho que já vos disse que trabalho no meio de nenhures um parque tecnológico em que os institutos estão inseridos numa área natural de carvalhos e pinheiros mansos). Acordei quase de madrugada para preparar o repasto: salada de grão com bacalhau, ovos verdes, febras com alhos e coentros, pimentos assados temperados, rissois vários e pasteis de bacalhau. Os pasteis de nata também não faltaram (descobri uma loja de produtos portugueses gira à brava – a cave portuguesa) e, claro, o bolo de bolacha, com precisosas indicações da minha filha :). Amigos… os moços comeram tudo. A minha querida Rita (portuguesa que trabalha comigo e que torna os meus dias no lab muito melhores) só dizia: “Em  Portugal as mesas são sempre assim – fartas de comida” e depois do almoço continuamos à mesa, porque começa o lanche” ahahhaha os franceses olhavam para nós com ar incrédulo – para eles isto é um comportamento do outro mundo – é que se é para comer gambas é três para cada um, nada de exageros :D! Disseram-me que o bolo de bolacha tinha sabor muito semelhante ao Tiramisu – nunca tinha pensado nisso mas de facto é verdade. O melhor tiramisu que comi foi em Roma e sabia a bolo de bolacha :)!

Foi muito giro. Uma das coisas que me dá mais prazer é cozinhar para convidados. Oferecer momentos como estes. Em França sinto sempre que eles não estão habituados a que ninguém lhes ofereça nada. É estranho ou pelo menos culturalmente muito diferente da nossa forma de estar socialmente com os outros. Ao fim de (quase) três anos eles já se começam a habituar à nossa forma de ser. Tanto assim é que me estão sempre a dizer (a mim e à Ritinha) que podíamos fazer este ou aquele prato português :)!

O dia terminou num restaurante fantástico no meu local de eleição: Cap d´Antibes. Foi uma surpresa. Sabia muito pouco do programa. O dress code era elegante. E estava marcado para as 20h30. Tenho sempre o mesmo pensamento quando saio à noite. E o carro? Detesto sair com o carro. Como não era longe decidi ir de bicicleta. Ainda por cima estava um final de dia lindo, quente e com a lua cheia a aparecer no horizonte. Sabem aquelas noites em que o mar parece uma película de óleo e a lua cria uma verdadeira estrada de luz reflectida? O quadro foi esse! Dress code elegante e bicicleta pode parecer um contrasenso, mas há sempre soluções. Levei os sapatos altos na bicicleta e calcei umas sabrinas. A roupa não há problema :)! Quando chegámos ao restaurante o valet (senhor que se encarrega de estacionar os carros no parque do restaurante) estava à porta. Riu-se e perguntou, simpaticamente, se gostaríamos que ele se encarregasse das bicicletas. Mudei de sapatos e entreguei-lhe a bicicleta. A noite começou divertida. Chegar desta forma a um dos restaurantes mais exclusivos da Côte d´Azur é, no mínimo, original! O chef Nicolas Navarro permitiu-me viver a melhor das experiências de sabores – a entrada então foi de um prazer indescrítivel. No final veio trazer-me a sobremesa, juntamente com o chefe de sala, para me desejar “joyeux anniversaire” :).

Ontem, já em Lisboa, fui a uma festa de anos de um amigo. Começou com um cocktail no Terrace do Fenix Music – ambiente giro, com uma vista sobre Lisboa lindissima. O vento estava um bocadinho desagradável, mas fora isso é uma boa morada em Lisboa. Seguiu-se o restaurante. Pois. Nos últimos tempos as minhas experiências nos restaurantes de Lisboa não têm sido as melhores. É a segunda vez que os meus amigos me dizem: “epá há um restaurante vintage muito bom e tal…” E eu começo logo a franzir o olho – epá deixem-se de modernices eu quero é comer comida portuguesa. Mas eles ganham sempre. E ontem, sobretudo, era um aniversário, por isso o restaurante nem era o mais importante. Descemos a avenida em direcção à Champanharia do Largo. O restaurante tem uma decoração gira e os empregados – apesar de novatos e com aparente falta de experiência de restauração – são simpáticos. Primeira dificuldade da carta: não existe nada para crianças. A Beatriz foi comigo e ela, como penso a maior parte das crianças, gosta de comer coisas simples. Ora coisas simples neste restaurante não há. Mesmo o pão que vem para a mesa, vem acompanhado de manteigas e azeite. E eu não percebo porquê existe uma necessidade – deve ser para ser in – de adulterar o sabor das coisas. O azeite não pode ser azeite. Tem de ser azeite perfumado com citrinos e ervas. A manteiga não pode ser manteiga. É manteiga em caldo de chouriço ou em não sem bem o quê. Seguem-se os ovos de coderniz ou os múltiplos montinhos de coisas com nomes muito portugueses que de português tem muito pouco. O pior foi quando a senhora me disse: se quiser temos sopas – temos caldo verde. Eh lá! Caldo verde! Epá as saudades que eu tenho de caldo verde! Com uma rodelita de chouriço e tudo – isso é que era (pensei)! Pedi o dito caldo verde! Qual não é o meu espanto, quando vejo o senhor chegar com uma taça branca e um bule – por momentos achei que estava em Essaouira e que o senhor me trazia o chá – e o vejo verter um líquido verde espesso na taça branca. Fiquei horrorizada com aquilo! Em estado de choque! “O que é isto?!? Perguntei com ar incrédulo! “É o nosso caldo verde! Todas as nossas sopas são assim!” Ahm… Estamos em Portugal! Alô! Se quiserem chamem-lhe esparragado líquido ou soup vert ou uma treta assim. Mas não lhe chamem caldo verde! O pior é que estes espaços in de Lisboa, que se dizem vintage e tal, poderiam revisitar a gastronomia portuguesa. Mas não! Estão a aplicar produtos portugueses confeccionados de acordo com a cultura francesa: os molhos, a adulteração de sabores e as combinações improváveis. Mas fazem-na mal! O resultado, na minha opinião, é péssimo. Less is more. Acho que este daria um bom nome para um restaurante lisboeta que revisitasse a nossa gastronomia. O azeite, senhores, é divinal como azeite. Não precisamos de lhe adicionar nada. A não ser que seja mau! A carne, desde que boa, até pode ser comida crua. E nada bate o nosso peixe grelhado. Porquê fazer souflés de peixe?!?

Resumindo. Cheguei a casa já passava da meia-noite. E fui fazer jantar para a Beatriz, que passou a noite a comer pão seco.

Mas o mais importante de tudo foi o abraço que dei a uma pessoa de que gosto muito. E ter estado com a Beatriz. Linda como sempre.

Hoje vôo para o Funchal. Pela primeira vez.

Até breve!