Esta foi uma semana do palato.
Na terça-feira, por ocasião do meu aniversário, convidei a minha equipa do lab para um pic nic verdadeiramente português (acho que já vos disse que trabalho no meio de nenhures um parque tecnológico em que os institutos estão inseridos numa área natural de carvalhos e pinheiros mansos). Acordei quase de madrugada para preparar o repasto: salada de grão com bacalhau, ovos verdes, febras com alhos e coentros, pimentos assados temperados, rissois vários e pasteis de bacalhau. Os pasteis de nata também não faltaram (descobri uma loja de produtos portugueses gira à brava – a cave portuguesa) e, claro, o bolo de bolacha, com precisosas indicações da minha filha :). Amigos… os moços comeram tudo. A minha querida Rita (portuguesa que trabalha comigo e que torna os meus dias no lab muito melhores) só dizia: “Em Portugal as mesas são sempre assim – fartas de comida” e depois do almoço continuamos à mesa, porque começa o lanche” ahahhaha os franceses olhavam para nós com ar incrédulo – para eles isto é um comportamento do outro mundo – é que se é para comer gambas é três para cada um, nada de exageros :D! Disseram-me que o bolo de bolacha tinha sabor muito semelhante ao Tiramisu – nunca tinha pensado nisso mas de facto é verdade. O melhor tiramisu que comi foi em Roma e sabia a bolo de bolacha :)!
Foi muito giro. Uma das coisas que me dá mais prazer é cozinhar para convidados. Oferecer
momentos como estes. Em França sinto sempre que eles não estão habituados a que ninguém lhes ofereça nada. É estranho ou pelo menos culturalmente muito diferente da nossa forma de estar
socialmente com os outros. Ao fim de (quase) três anos eles já se começam a habituar à nossa forma de ser. Tanto assim é que me estão sempre a dizer (a mim e à Ritinha) que podíamos fazer este ou aquele prato português :)!
O dia terminou num restaurante fantástico no meu local de eleição: Cap d´Antibes. Foi uma surpresa. Sabia muito pouco do programa. O dress code era elegante. E estava marcado para as 20h30. Tenho sempre o mesmo pensamento quando saio à noite. E o carro? Detesto sair com o carro. Como não era longe decidi ir de bicicleta. Ainda por cima estava um final de dia lindo, quente e com a lua cheia a aparecer no horizonte. Sabem aquelas noites em que o mar parece
uma película de óleo e a lua cria uma verdadeira estrada de luz reflectida? O quadro foi esse! Dress code elegante e bicicleta pode parecer
um contrasenso, mas há sempre soluções. Levei os sapatos altos na bicicleta e calcei umas sabrinas. A roupa não há problema :)! Quando chegámos ao restaurante o valet (senhor que se encarrega de estacionar os carros no parque do restaurante) estava à porta. Riu-se e perguntou, simpaticamente, se gostaríamos que ele se encarregasse das bicicletas. Mudei de sapatos e entreguei-lhe a bicicleta. A noite começou divertida. Chegar
desta forma a um dos restaurantes mais exclusivos da Côte d´Azur é, no mínimo, original! O chef Nicolas Navarro permitiu-me viver a melhor das experiências de sabores – a entrada então foi de um prazer indescrítivel. No final veio trazer-me a sobremesa, juntamente com o chefe de sala, para me desejar “joyeux anniversaire” :).
Ontem, já em Lisboa, fui a uma festa de anos de um amigo. Começou com um cocktail no Terrace do Fenix Music – ambiente giro, com uma vista sobre Lisboa lindissima. O vento estava um bocadinho desagradável, mas fora isso é uma boa morada em Lisboa. Seguiu-se o restaurante. Pois. Nos últimos tempos as minhas experiências nos restaurantes de Lisboa não têm sido as melhores. É a segunda vez que os meus amigos me dizem: “epá há um restaurante vintage muito bom e tal…” E eu começo logo a franzir o olho – epá deixem-se de modernices eu quero é comer comida portuguesa. Mas eles ganham sempre. E ontem, sobretudo, era um aniversário, por isso o restaurante nem era o mais importante. Descemos a avenida em direcção à Champanharia do Largo. O restaurante tem uma decoração gira e os empregados – apesar de novatos e com aparente falta de experiência de restauração – são simpáticos. Primeira dificuldade da carta: não existe nada para crianças. A Beatriz foi comigo e ela, como penso a maior parte das crianças, gosta de comer coisas simples. Ora coisas simples neste restaurante não há. Mesmo o pão que vem para a mesa, vem acompanhado de manteigas e azeite. E eu não percebo porquê existe uma necessidade – deve ser para ser in – de adulterar o sabor das coisas. O azeite não pode ser azeite. Tem de ser azeite perfumado com citrinos e ervas. A manteiga não pode ser manteiga. É manteiga em caldo de chouriço ou em não sem bem o quê. Seguem-se os ovos de coderniz ou os múltiplos montinhos de coisas com nomes muito portugueses que de português tem muito pouco. O pior foi quando a senhora me disse: se quiser temos sopas – temos caldo verde. Eh lá! Caldo verde! Epá as saudades que eu tenho de caldo verde! Com uma rodelita de chouriço e tudo – isso é que era (pensei)! Pedi o dito caldo verde! Qual não é o meu espanto, quando vejo o senhor chegar
com uma taça branca e um bule – por momentos achei que estava em Essaouira e que o senhor me trazia o chá – e o vejo verter um líquido verde espesso na taça branca. Fiquei horrorizada com aquilo! Em estado de choque! “O que é isto?!? Perguntei com ar incrédulo! “É o nosso caldo verde! Todas as nossas sopas são assim!” Ahm… Estamos em Portugal! Alô! Se quiserem chamem-lhe esparragado líquido ou soup vert ou uma treta assim. Mas não lhe chamem caldo verde! O pior é que estes espaços in de Lisboa, que se dizem vintage e tal, poderiam revisitar a gastronomia portuguesa. Mas não! Estão a aplicar produtos portugueses confeccionados de acordo com a cultura francesa: os molhos, a adulteração de sabores e as combinações improváveis. Mas fazem-na mal! O resultado, na minha opinião, é péssimo. Less is more. Acho que este daria um bom nome para um restaurante lisboeta que revisitasse a nossa gastronomia. O azeite, senhores, é divinal como azeite. Não precisamos de lhe adicionar nada. A não ser que seja mau! A carne, desde que boa, até pode ser comida crua. E nada bate o nosso peixe grelhado. Porquê fazer souflés de peixe?!?
Resumindo. Cheguei a casa já passava da meia-noite. E fui fazer jantar para a Beatriz, que passou a noite a comer pão seco.
Mas o mais importante de tudo foi o abraço que dei a uma pessoa de que gosto muito. E ter estado com a Beatriz. Linda como sempre.
Hoje vôo para o Funchal. Pela primeira vez.
Até breve!
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