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Nice. 14 de Julho. 2016. Era para ser uma noite feliz…

… mas não foi! Foi uma noite de HORROR!

Nissa la Bela. É assim que é conhecida. No topo da colina do château encontrei a minha Lisboa, a 2000 Km de distância. A mesma luz. O mesmo casario envelhecido cujos telhados preenchem uma manta de retalhos imperfeita. O serpentilhar de estrelas que flutuam nas águas de um azul turquesa inigualável. Sinto que conheço uma cidade quando a sinto de olhos fechados. Quando lhe descobri os detalhes. Quando lhe associo cheiros e emoções. É preciso vivê-la para a sentir desta forma.

Nice é uma cidade romântica. Uma cidade voltada para o mar. Onde todos os caminhos terminam na Promenade des Anglais.  A Promenade. 7 Km de espaço onde todos se encontram. Todos. Dos recém-nascidos aos que já se esqueceram de contar as primaveras. Dos mais pobres aos mais ricos. Dos nativos aos que nasceram longe, nos antípodas deste velho continente. Conheço-lhe os relevos que passam despercebidos. Por tê-la feito tantas vezes em patins. As cadeiras azuis. As crianças que correm. Os casais apaixonados. O sonho da provence marítima. Num cartão postal cheio de vida.

O 14 de Julho é o feriado mais estimado pelos franceses. Um dia passado em família. Durante o dia as ocupações são várias. Ou nas celebrações oficiais. Ou na praia. Ou na montanha. Mas à noite o programa é, obrigatoriamente, ver o fogo de artíficio. Começa entre as 22h e as 22h30. Em todas as vilas de França. Este ano optei por ver o fogo de artíficio a partir da minha varanda. Como tenho a Beatriz comigo evitei ir com ela para Nice. A PromParty (pequenos palcos com concertos ao longo da Promenade des Anglais) nem sempre termina bem com os excessos de álcool. Foi por volta das 23h10 que comecei a receber mensagens a perguntar se estava bem. À primeira não estranhei. À segunda comecei a questionar-me porque é que toda a gente se estava a lembrar de mim à mesma hora. Até que uma amiga portuguesa me escreve “parece que há um atentado em Nice, tu estás bem?”. As minhas mãos começaram a tremer. Disse ao C. (ele francês) “há um atentado em Nice”. Ele não queria acreditar. Ligámos a televisão. Nessa altura ainda não se sabia se existiam vítimas. Mas eu sabia que havia. Só poderia haver. E na minha cabeça só imaginava as crianças. As mesmas que me obrigam a fazer ziguezagues em patins. As mesmas que correm e que brincam, por vezes a alguns metros dos seus pais. Imaginei os pais sem colo suficiente para os três filhos que frequentemente têm. Os carrinhos de bébés. Pensei que poderia ser eu com a minha filha. Pensei nos meus amigos que são a minha família aqui. Pensei em todas as pessoas que estavam ali para sonhar através do fogo de artífico. Uma sensações de violação dos espaços que são nossos. Porque a Promenade é um bocadinho de cada um de nós. E chorei.

Ontem, aqui no comércio local ouvi muitas vezes (vezes demais) “il faut vivre avec!” Não! Eu não me habituo a isto! Não me quero habituar a isto!

Alguém escreveu que outros dias virão após o 14 de Julho de 2016. E que o sol ilumunará de novo a Promenade. E a vida que a preenche apagará o horror vivido. Acontecerá por ventura. E eu não o presenceei. E não o vi. Mas ele fica em cada um de nós. Vestido de medo. No egoísmo (sim, é egoísmo) de que o azar não se repita. Qual roleta russa, esta em que vivemos!

A (minha) Promenade…

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Há três anos na Côte d´Azur. E tornei-me (n)isto…

Hoje faz três anos que cheguei à Côte d´Azur! Não posso dizer que parece ter sido ontem. Porque senti o tempo passar…

Ser emigrante ou expatriado ou o que lhe quiserem chamar… é uma sensação de não pertencer a parte alguma. Mesmo que inconscientemente nos apropriemos dos espaços, das sensações, dos sabores… há em nós – ou porventura apenas em mim -, o sentimento de não pertença. Tenho pensado muito sobre isto. Sobre onde verdadeiramente me sinto em casa. É verdade que Lisboa é a cidade que habita o meu coração. Por todas as razões. Mas também é verdade que me sinto cada vez mais estrangeira no meu país. Em França sinto falta de falar português e dou comigo, em Portugal, a sentir-me melhor com estrangeiros do que com portugueses. Dou comigo a procurar as palavras para me expressar. E há vezes em que o que quero dizer só pode ser dito em francês. Não bastante. Há vezes em que sinto o mesmo, mas em inglês. Já não gosto assim tanto de pasteis de nata – são demasiado doces, as mesas fartas tiram-me a fome, o excesso de familiariedade deixa-me desconfortável, assim como as conversas de pequenez…

No presente eu sou isto! Não há quem aguente! Por vezes… nem eu!

França tornou-me mais confiante a todos os níveis. Não sei se foi França ou a experiência de ter tido a ousadia de trocar a vida confortável que tinha, por uma outra… bem mais incerta. França é um país que às vezes amo… e outras vezes odeio. É um país que por vezes me faz sentir a mais… e outras me segura e me diz que precisa de mim. É um país que me deixa sonhar porque me segura, não me deixando cair. É um país que me ensinou a falar de lábios quase fechados proferindo palavras que soam a petits bisous. É um país em forma de hexágono como os favos de mel. Às vezes tenho vontade de ficar. Às vezes tenho vontade de partir. E de todas as vezes que sinto vontade de partir, olho este mar em frente e sinto saudades… mesmo antes de partir.

Uma pessoa esgota os diplomas universitários para depois não saber resolver as equações simples da vida!

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E tem sido esta a minha vida. Há três anos de malas feitas. Uma pausa que se transformou numa (quase) eterna vírgula. Onde não estou lá… mas também não estou aqui. Três anos pode ser tanto tempo. Três anos é tanto tempo!

Angela Merkel e Portugal no Carnaval de Nice, França.

O Carnaval de Nice é um dos moments altos da região. É de facto grandioso! Este ano tem por tema a gastronomia. Angela Merkel está presente no desfile. Portugal também. Não está sozinho. Está acompanhado por Itália, Grécia e Espanha. Estão no prato da chanceler… Mais palavras para quê…

Portugal- Carnaval