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Um abraço virtual. Feliz Natal!

Acordei sem vontade de me lavantar. Este Natal é um bocadinho triste para mim. Esta manhã sinto-o mais do que nos outros dias. A Beatriz costuma acordar-me para me dizer “mamã hoje é Natal” com aquele sorriso que lhe conheço, numa alegria contangiante. Este ano passaremos o Natal separadas por um Oceano. Ela está muito feliz do lado de lá. E eu faço por me sentir feliz, porque ela está feliz, do lado de cá.

Mais do que presentes, para mim o Natal é estar em família. Sinto-me uma previligiada por não termos problemas de saúde e por não desejar mal, ou invejar, quem quer que seja. Sinto-me em Paz. Comigo. E com os outros.

Eu e a minha irmã juntámo-nos para oferecer o nosso presente. Chamámos-lhe presente de família. Não posso escrever mais. Mas se há uma coisa que me faz sentir um bocadinho menos triste por não ter a Beatriz comigo, é poder fazer esta surpresa aos nossos pais. Amanhã conto-vos como foi :)!

O agoradigoeu tem sido o meu bloco de apontamentos. Não raras vezes releio o que escrevi. Volto a rir das peripécias. Emociono-me com outros textos. Não é tudo sobre mim. Mas é uma grande parte de mim. De tal modo que se criam amizades virtuais. Com pessoas que não conheço pessoalmente. Algumas de quem não sei a idade ou o sexo. Os amigos reais também me vão dizendo “sabes que também leio o teu blog!” A regularidade com que escrevo tem a ver com a minha disponibilidade. Física e não só. Mas gosto sempre. Mas mesmo sempre. Que estejam desse lado. Que me escrevam. Que escrevam – aqueles de vós que como eu também escrevem em blogs.

Desejo-vos uma noite quentinha. Junto às pessoas que vos são mais queridas. Com uma mesa rica em sabores. E que esqueçam o que não têm, para melhor valorizarem tudo o que a vida vos tem oferecido.

Um abraço virtual. Feliz Natal!

Uma carta de amor na forma de livro.

A minha filha celebra o seu décimo aniversário este mês. O que começou por ser uma carta de amor, acabou por se transformar num livro. Uma estória (a nossa estória) contada com letras e imagens. É sobre nós. Apenas nós: Mãe e filha. Ainda não o recebi. Estou tão curiosa para ver o resultado… nem imaginam. Deixo-vos um bocadinho do que lhe escrevi.

Começa assim:

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Esta é uma carta de amor em forma de livro.

Um baú de memórias que te imagino ler esta, outra e, ainda, outra vez. Todas as vezes quantas sentires vontade. Mesmo quando fores crescida e eu for (já) quase velhinha. Sei que vais (re)descobrir novos significados, a cada vez que o leres, em cada idade que tiveres… é possível que ainda não compreendas tudo o que te vou escrever. Mas não faz mal! As palavras escritas têm esta magia de serem perenes, e à medida que fores crescendo vais encontrar os significados das mensagens que hoje te parecerem (ainda) ilógicas.

Nunca gostaste de trocar de papeis comigo. Fazeres de minha mãe e eu de tua filha. E quando eras pequenina observava-te a brincar com os nenucos. Reproduzias os diálogos que eu tinha contigo. Davas carinhos, mas também castigos. Exactamente da mesma forma que eu fazia contigo. Nunca li livros sobre bebés ou educação de crianças. Raramente participei em discussões entre mães. Porque considero que não existem fórmulas. Foste tu que me fizeste nascer mãe. Foste tu que me ensinaste a educar-te. Que procuraste os limites. E eu tentei estabelecê-los. No que acreditei serem os melhores. Juntamente com o papá. Acredito que a educação se faz na primeira infância. Respeitar os pais e os mais velhos. Retribuir o amor e os sorrisos. Saber confiar. Ser grato. Saber escolher. Saber dizer não. Relativizar o insucesso. Tentar. Mesmo que pareça difícil. Pelo menos tentar. Gostar de si.

Tu nasceste depois do escudo (a moeda que existia em Portugal, antes do euro), dos telémoveis e da internet. Numa palavra, tu nasceste no tempo global, em que o mundo se torna, estranhamente, pequeno. O valor do conhecimento está à distância de um clic e cedo percebeste que o google poderia ser a tua enciclopédia. Neste tempo tão concreto, esforcei-me por desenvolver o teu lado imaginário – com os filmes de imaginação, como um dia lhes chamaste, ou livros com estórias sem sentido aparente. As viagens. Adoro viajar contigo. Mostrar-te os mundos que o mundo tem. Os museus, os teatros, as telas que pintamos, os desafios… são o ensaio de mim a tentar inspirar-te a ti.

(…)

Sabes, filha, eu gostava de poder escrever que a vida vai ser sempre simples. Mas não posso. Quando eras pequenina a mamã dizia-te que para crescermos temos de cair. No dia em que caíste da bicicleta e queimaste o rosto, perguntaste-me se para crescer era preciso te magoares tanto. Eu abracei-te. E respondi-te que às vezes é preciso.

As piores feridas são aquelas que não se vêem. No mundo dos grandes há muitos silêncios. E pior do que os muitos silêncios, há muitas palavras que escondem as palavras que deveriam ser ditas. Por vergonha. Por orgulho.

Eu serei sempre o teu colo.
Para os teus silêncios.
Para as palavras que achares que precisam ser ditas.

Prometes que nunca te vais esquecer disso ?
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Escrever. Seleccionar as fotografias. Editar cada página. Foi reviver cada ano que passou. E, na página 201, terminei assim:

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Não sei como será o futuro. Que pessoa adulta serás? Que profissão irás escolher? Que prioridades terás? Isso parece, ainda, tão distante. Estou quase a terminar, meu amor. Quase, quase. E é bem possível que o que agora vou escrever te pareça demasiado complicado. Mas eu sei que me vais voltar a ler. E que um dia vai fazer sentido.

Na minha vida aprendi que podemos perder quase tudo o que temos. Só não perdemos o que somos. Quando na vida se escolhe ter coisas, tem-se, na opinião da mamã, uma vida “poucoxinha”. As coisas não são mais do que isso: coisas! E ter coisas significa ter medo – de as perder, e ter inveja – porque há sempre quem tenha mais coisas do que nós.

Pode ser diferente.

A vida torna-se muito mais interessante quando os teus amigos gostam de ti pelo que és, e não pelo que tens. Quando sentes a tua profissão como paixão e não como uma forma de ganhar dinheiro. Quando sentes poder fazer a diferença. Quando celebras a sorte e esqueces o azar. Quando sentes que tens a vida que escolheste e não aquela que te sobrou.

“Só pessoas fortes e especiais podem conhecer lugares mágicos” lembras-te?

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Demorou algum tempo a concluir. E quando durante a última madrugada dei ordem de impressão senti-me estranha. Eram 3h da manhã e não tinha sono. O meu primeiro livro. Que muitos acharão pouco mais do que um álbum fotográfico. Mas que para mim é, sobretudo, uma carta de amor.

E quando os sonhos nos confundem…

E quando os sonhos se confundem…
Quando aquilo que pensamos gostar não é o que nos traz paz… em vez disso… nos oferece tristeza, frustração e ansiedade.
Quando aquilo que não olhamos (simplesmente porque pensamos não gostar) nos abraça na dimensão do nosso corpo, do nosso passado e do nosso horizonte… e nos faz pensar que já não importa tanto o tempo e a razão.
somos impregnados dos vestígios das batalhas que travámos, das desilusões, das alegrias, das conquistas, das verdades (e também das mentiras). Temos medos, redomas, magoas e ressentimentos… sim, temos tudo isso (tenho tudo isso)! A linguagem torna-se um sumo de ironia e, não raras vezes, hipocrisia… (Sofro disso, também)! Mas a vida faz-nos tolerantes, resilientes… Mais apaixonados pelos gestos simples (porque nos fizeram falta – me fizeram falta) e menos fascinados com as capas da vida – sim, porque em ultimo percebo que a vida não é diferente de uma revista – a capa vende… Mas a mim sempre me interessaram mais as crónicas das ultimas páginas!