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E novas eleições?

Passei os últimos dias em Lisboa. Uma Lisboa vestida de verão com cheiro a castanha assada (escrevo isto e fico com água-na-boca). A política marca a agenda. Num momento que me faz sentir uma verdadeira ignorante em matérias de Constituição. Percepciono, na minha iliteracia, que as opiniões se extremam. Como se as pessoas defendessem a sua cor política como a um clube de futebol.

Não acho que o país tenha feito as melhores políticas nos últimos anos. E acredito que poderia ter sido diferente. Mas custa-me ver um PS querer governar a qualquer custo. Uma ideia de democracia que me parece pouco mais do que um projecto “jobs-for-the-boys”…

E novas eleições?

É que mesmo que tudo-o-que-se-passa-na-agenda-política esteja previsto na Constituição, não deixa de ser embaraçoso…

E era isto!

Acho tudo isto inquietante. Muito inquietante…

Há três semanas que não vou a Lisboa. Ainda faltam uns dias para voltar. As semanas passam rápido. Os fins-de-semana nem por isso… Tenho andado cansada. Cansaço e stress em mim, é sinónimo de sistema imunitário enfranquecido. E o meu (desde sempre) amigo herpes dá o ar da sua graça. Nos últimos dois dias fui um (quase) personagem de Tim Burton, com o meu lábio inferior a ocupar-me toda a cara e pejado de erupções asquerosas de soro amarelo.

Amanhã é dia de eleições. Esta campanha foi uma vergonha. Repleta de acusações sobre o passado, em que todos parecem ser culpados. Um vazio de ideias sobre o futuro. Valeu tudo! Menos o respeito pela Instituição que é a Republica e a Democracia. Política hoje, ou pelo menos aquela que os políticos exercem, não tem nada de ideológico. Tem apenas a sede do Poder… a qualquer preço!

Por aqui discute-se o “potencial” início de uma III Guerra Mundial. Com a Rússia a bombardear a Síria. Os Estados Unidos a dizerem aos Russos que estão a violar os tratados. A França e a Alemanha a procurarem os seus lugares.

Acho tudo isto inquietante.

Muito inquietante.

 

“Venha o diabo e escolha!”

Entre um Passos Coelho que vive num país imaginário e um António Costa que se pensa iluminado, estou na expectativa para saber quem vai perder! Penso que nenhum terá maioria. E dúvido que Paulo Portas consiga reunir votos que dê à coligação a maioria. Uma vitória PSD que precisa fazer coligação à esquerda não me parece improvável. Ora à esquerda teremos um bloco de esquerda com nova liderança, que parece convencer minorias expressivas. Será que a sede de poder/governar se sobreporá aos princípios partidários?

Infelizmente não se debatem ideias. Fazem-se acusações partidárias. Os senhores fizeram isto. E nós aquilo. E nós, que estamos em casa a assitir, pensamos “venha o diabo e escolha”!

 

Março. março. março… há meses assim!

Tenho andado em versão autómato – ou zombie, talvez seja mais apropriado. Os meses de Março são-me genericamente difíceis. Mas este não está longe do Março de 2012.

Aos dias de 13 horas no lab têm-se sucedido as noites-mal-dormidas – sabem aquela sensação de quando estamos tão cansados que nem dormir conseguimos? Acumulam-se as saudades da Beatriz – que chega na próxima semana. E junta-se um crescendo de adrenalina – da boa. Na próxima semana apresentarei, num congresso, os resultados do meu trabalho. Para mim é uma honra estar no simpósio em que estou e estar alinhada com pessoas de quem admiro o trabalho. Farei por estar à altura.

Sinto aproximarem-se dias bons. Conversas boas. Amigos. Família.

E quem sabe a decisão do-que-queria-tanto.

Tenho lido algumas notícias do que se vai passando em Portugal. Com uma tónica acentuada em políticos que se esquecem de pagar os seus impostos. Li qualquer coisa sobre incentivos aos emigrantes para regressar ao país – começou a campanha eleitoral? Já que Portugal aplica coimas a tudo, deveria seguir o exemplo da Bélgica em matéria de voto. Os belgas têm taxas de abstenção inferiores a 10%. Isto porque se enraizou na sua cultura que mais do que um dever, votar é uma obrigação. Aqueles que não votarem pagam uma multa que pode chegar aos 60€ e a reincidência impede o acesso aos serviços sociais. Portugal teve 41,1% de abstenção na legislativas de 2011. Que legitimidade têm para falar de maus políticos (e más políticas)?

Até um dia destes.

Afinal Salazar até tinha razão.

“Ontem o meu colega ficou a saber que não lhe vão renovar o contrato. O patrão diz que ele não atingiu os objectivos. Objectivos de merda. Que ninguém consegue atingir. Dois anos para nada. O patrão diz que ele poderia ter avançado os projectos durante o fim-de-semana. Afinal até tem portátil da empresa. Agora só resto eu e quase vinte secretárias vazias. Não sei até quando. Um gajo trabalho até tarde. Trabalha ao fim-de-semana. Estamos em crise – é justificação para tudo. E em vez de melhorar só piora…”

Por terras napoleónicas todos pensam que Portugal está muito melhor do que em 2012. Acham que a intervenção da troika foi positiva para o País. Que o ajudou a separar o trigo do joio. E que agora Portugal se tornou um país de esperança e oportunidades. É isso que ouvem nas informações. E os políticos portugueses são mesmo considerados um exemplo de tenacidade face às adversidades. No avião tenho conhecido muitos turistas franceses que visitam Lisboa. E sem excepção fazem-me sempre as mesmas observações. “Não percebemos como é que um país que tem dificuldades financeiras tem tantos bancos. Parece que não existe mais nada. Numa rua podem existir cinco ou seis bancos. E às vezes até existem duas agências do mesmo banco. Aquela avenida grande, por exemplo. A do Marquês de Pombal. É só publicidade de bancos. E parece que os edifícios só estão cuidados e iluminados quando se trata de um banco.” Só tomei consciência disto depois de viver em França. Aqui é completamente diferente. Os bancos escasseiam e há mesmo vilas em que só existe um multibanco. Portugal não parece ser mais do que um quintal de interesses à sua escala. Neste ambiente de medo – como o testemunho com que iniciei este post e que ouvi de uma pessoa próxima.

Ser emigrante faz-nos mudar o olhar sobre as coisas. Somos, de alguma forma, espectadores. E é neste papel que vejo um polvo que se chama Alemanha personificado numa Angela Merkel, que tem uma ideia de Europa cujo centro é o seu país. Uma Alemanha que se relaciona com a França na hipocrisia que a última lhe ensinou, que aprendeu a controlar a sua arrogância para com os vizinhos, até porque está na mó de cima e os franceses estão ocupados com as alocações sociais e direitos dos trabalhadores. E a Alemanha sabe que a Grécia não está sozinha. Não ficará sozinha. E vai ceder. Os Estados Unidos têm interesse naquele canto do mediterrâneo. Até porque não acredito que o eixo Rússia / Ucrânia tenha já findado todos os actos da sua peça. A juntar a esta conjectura geo-política temos esse fantasma que se chama terrorismo, na personificação dum movimento jihadista – leia-se, na acção de pessoas como nós, que foram, porventura, manipuladas por ideais de poder, camuflados em religião.

Portugal continua igual a si próprio. A comportar-se como bom aluno para receber palmadinhas nas costas. Mesmo que o custo tenha sido o êxodo, sem precedentes, de pessoas diplomadas, a perda da esperança e o comprometimento da natalidade. Afinal Salazar até tinha razão. Basta ter a instrução primária. Pessoas com sentido crítico são um empecilho à governação! Recebemos do Estado Novo a “vocação”para cumprir ordens, sem protestar. Às vezes penso que o 25 de Abril não foi uma revolução ganha pelo povo “que mais ordena”, mas sim um sistema ditatorial, há muito moribundo, que perdeu.

E era isto.