Este mês de Maio é atípico. Parece que a excepção é trabalhar!

Este mês de Maio é atípico. Parece que a excepção é trabalhar. A vila, em que eu moro, acordou – depois dos dias pequenos, de inverno. Há uma verdadeira romaria de carros, bicicletas e pessoas domingueiras a passear à beira mar. As esplanadas embelezaram-se, as lojas abrem as portas e os bares de praia convidam a espreguiçar. Não falta a música ao vivo, as velas e, naturalmente, os turistas endinheirados que descem à Côte d´Azur, para uns dias de férias.

Por estes dias tive uma das piores experiências sociais desde que aqui estou. Um evento entre pessoas que têm a nacionalidade em comum e, comigo, pouco mais. Uma conversa vazia, pejada de acessórios e figuras de estilo – absolutamente inúteis, desinteressantes e tão poucochinhas,… a muito custo não permiti que a minha ironia se evidenciasse – silêncio! Se há coisa que a idade me trouxe, é saber que há momentos em que o melhor, é não dizer nada!

O fim de semana foi de 3 dias. 3 dias que se inserem nos 10 dias do Festival de Cannes. Um colombiano, com uma curta-metragem no Festival, enviou-me um request no couchsurfing. Aceitei que ficasse em minha casa algumas noites. Foi com ele que fui a Cannes.

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Um dia de cinema e de conversas muitas. “Sabes, quando vim estudar cinema para Barcelona percebi o quão cegos somos todos os colombianos. Leste o ensaio sobre a cegueira, do Saramago? é português não é? Quando vi o filme achei que era uma boa caricatura do povo colombiano! E mesmo quando agora digo aos meus amigos que é possível viver de outra forma. Que é normal as pessoas terem direito a ser tratadas num hospital, que é possível andar na rua sem ter medo, que não é normal perder os nossos amigos porque foram mortos, que podemos falar sem ter medo de sermos perseguidos,… Quando lhes digo tudo isto, eles não acreditam, acham que estou a exagerar… Quando cheguei a Barcelona eu não conseguia andar na rua sem estar sempre a olhar para trás, para ver se vinha alguém atrás de mim. Eu cresci no meio da violência. Os meus pais mudaram de casa muitas vezes, sempre a fugir, para que não me acontecesse nada a mim ou aos meus irmãos. É por isso que eu quero contar a história do meu país.” Perguntei-lhe como tinha sido a sua educação, se os pais o tinham educado para ter um olhar crítico sobre o que o rodeava. Ele olhou para mim com um sorriso. “Eu fui educado para ganhar dinheiro. É isso que importa para a minha família. E se eu estou na Europa é isso que esperam de mim!” Enquanto o ouvia pensava na minha infância e em Portugal. Bebia as palavras dele como se fossem um filme de ficção, porque de facto, há realidades que, nem mesmo contadas, podem ser (sequer) imaginadas.

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No fim de semana ainda houve tempo para passear. Desta vez ao último dos Cabos de França, antes da fronteira com Itália – Cap Martin. O G. lá me convenceu a ir de mota – numa condução segura, devo dizer. A viagem de mais de 50 Kms pela costa tem paisagens lindíssimas e muitas vezes tive pena de ter a máquina fotográfica na mala. É sempre bom conhecer a terra com gente da terra! E o amigo monegasco lá nos levou aos caminhos e cantos secretos do Cap Martin. Alguns Km a pé, com o mar aos pés – num dia em que estava particularmente agitado. Sem pressa. Com boa conversa. Em excelente companhia!

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E tem sido assim o tempo livre por aqui. O sol, a praia e as paisagens ainda são de borla. A companhia faz o resto. Mesmo que em silêncio, que (não raras vezes) sabe tão bem!

eu

Até breve…

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