40 anos. A idade em que nos tornamos naquilo que somos.

Tenho sentido vontade de vos escrever. De vos dizer com os dedos para que me ouçam com os olhos. Como num outro tempo  justifiquei este blog – já passaram uns anos desde esse verão de 2012.

Este ano faço 40 anos. Gosto da frase do poeta francês Charles Péguy  “Os 40 anos são uma idade terrível. É a idade em que nos tornamos naquilo que somos”.

O último ano foi um ano de mudança. Serei mais justa se lhe apelidar ano de confirmação. Ter ficado em primeiro lugar no concurso e desse modo ingressar nos quadros da Universidade, trouxe tranquilidade à minha vida. Uma sensação de chegada ao destino depois de uma longa viagem. A possibilidade de me projectar no tempo num mesmo espaço. Sinto-me previligiada. Nesta região de luz e dos azuis que Matisse imortalizou. Nos sabores e perfumes da Provence. Nesta língua que me parece cada dia mais poesia. Impregnada nos olhos verdes daquele com quem não conto os dias.

Anuncia-se um grande projecto. Construir uma casa. A nossa casa. Até à data sempre olhei para os espaços onde vivi como de passagem. Ter uma casa nunca foi um objectivo ou um sonho. Sempre fugi a sete pés da possibilidade de ter “a morada onde iria envelhecer”, porque em boa verdade a associava a amarras ou impedimento de conhecer outros mundos, numa busca constante do destino. E ao mesmo tempo eu sabia exactamente como seria a casa. A arquitecta disse-nos que este foi um dos seus projectos mais faceis de materializar. Que tinha a sensação que nós tinhamos maturado tão bem a casa que ela a conseguiu visualizar desde o nosso primeiro encontro. É uma casa de sonho sem que antes nunca a tenha verdadeiramente sonhado. É a essência do que gosto. de luz. de arte. do encontro entre a arquitectura do norte e o romantismo do sul. numa lógica de poesia e geometria. Num terreno que tem as oliveiras da minha infância no ribatejo, perfumadas pela lavanda do sul de França. Je hate d´y être…

Cheguei ao destino. Enfim.

Deixo-vos algumas fotografias de momentos que preencheram os tempos de silêncio aqui no blog.

 

 

Até breve!

 

 

“Sozinhos vamos mais depressa…

mas a dois vamos mais longe

(“Seul on va plus vite, mais ensemble nous allons plus loin”).

Frases que me ficam na memória.

Até breve.

“Je vous écris dans le noir” de Jean-Luc Seigle

Gosto de livros que contemplam a poesia na prosa. De linhas escritas na primeira pessoa. De frases simples e, por vezes, cruas que expressam o que penso – e tantas vezes – o que sinto.

Deixo algumas passagens de um livro maior do que o seu tamanho. Não vou traduzir. A poesia está, também, no facto de ser escrito em francês.

“Je n´avais pas encore compris que ce n´était pas l´amour, ni le désir, ni la sexualité qui fasait une femme mais sa prodigieuse capacité à affronter et à transformer la vie comme aucun homme ne serait capable de le faire. Eux savent se battre contre des choses concrètes, contre les intempèries, contre les ennemis, alors que les femmes sont capables de se battre contre l´inconnu, contre les mauvais esprits, contre le Destin.”

“Je connaissais tous les noms que contient notre corps, de la tête aux pieds. Les mots du corps sont extraordinairement poétiques, particulièrement ceux de la gorge: les muscles azygos, l´os hyoide, les piliers pharyngiens, la trompe d´Eustache et cent autres noms antiques. Aucun d´entre nous ne pourrait vivre dans un pays sans connaître la géographie et l´histoire; c´est même le seul moyen pour se sentir chez soi. La plupart de gens vivent dans un corps qui leur est parfaitement étranger. Tout ce qui est exterieur à notre corps nous rassure, alors que l´interieur nous intimide au point que nous l´oublions, jusqu´à ce que la maladie survienne. La maladie est un cri en dètresse du corps qui ne supporte plus d´être ignoré”.

Bom fim-de-semana.

 

A dessensibilização (e mesmo recusa) à noticia.

Os ultimos tempos têm sido marcados por acontecimentos brutais sob ponto vista humano e social. Recordo o Bataclan, os atentados de Nice, ou, mais recentemente, a tragédia dos incêndios em Portugal. Em cada um destes episodios os media fizeram reportagens intensivas, explorando ao infimo pormenor os contextos de vidas roubadas, dando voz a testemunhos, gerando discussões com o objectivo de encontrar responsabilidades e/ou gerar estratégias de prevenção, para que a estoria não se repita. Fa-lo de uma forma ininterrupta, por vezes com cobertura 24h/24h. Isto durante uns dias e depois ha um silêncio que é percepcionada como sinonimo de esquecimento – não sei se existe correlação com niveis de audiência – espero que não :/ – os acontecimentos passaram de prazo e ja estamos todos fartos – jornalistas e espectadores de (ouvir) falar do mesmo!

Sinto que durante os incidentes a quantidade de informação é tal – e por vezes dolorosa para a maior parte de nos -, que ha um mecanismo biologico que conduz à dessensibilização face à noticia. A recusa dos programas de informação com preferencia por series na Netflix, ou o zapping pelos titulos dos meios de comunicação online, permite passar “ao lado” da noticia. Os meios tecnologicos que hoje temos permitem dar/proliferar a informação mais rapido. Mas sera que a confusão de fontes – e o que é que isso interessa?, o volume de informação e a forma “quase bruta” como é transmitida não tem um efeito contrario ao pretendido? ou seja, espantar espectadores em vez de os atrair para os informar?

Boa noite.

 

 

Le glamour de Agosto na Côte d’Azur…


Estou naquele momento em que já não suporto turistas. O barulho dos barcos com gente a fazer ski aquático, os aviões de publicidade que sobrevoam a Praia, os turistas Airbnb que acham que os outros não dormem, os restaurantes e supermercados e lojas que aumentam os preços. O trânsito infernal. Os 20 cm que separam onde estou sentada na praia e a vizinha do lado. Ah… e as filas! Como na foto. Desta vez para comprar a baguette na boulangerie. Vivement septembre!! É o que vos digo!!